Além de sua notável atuação, Lily Gladstone utiliza sua visibilidade para desafiar a sub-representação dos indígenas nas premiações dos Estados Unidos e na indústria audiovisual

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Por  Giovanna Colombo

Lily Gladstone, a talentosa atriz coadjuvante no mais recente filme de Martin Scorsese, “Assassinos da Lua das Flores”, desempenha o papel crucial de Mollie, uma mulher indígena proprietária de terras petrolíferas. A narrativa do filme gira em torno dos assassinatos ocorridos entre o povo indígena da tribo Osage, baseando-se em eventos reais. Este papel proporcionou a Lily um destaque significativo em sua carreira, culminando na conquista do cobiçado prêmio de Melhor Atriz de Drama no Globo de Ouro. Em um emocionante discurso, proferido em sua língua nativa, ela não apenas celebrou sua vitória, mas também inspirou os jovens indígenas a perseguirem seus sonhos.

“Esta é uma vitória histórica. Não pertence apenas a mim, isto é para cada criança nativa que tem um sonho”, afirmou a atriz.

A atuação de Lily transcende as fronteiras do entretenimento, pois ela não apenas representa uma atriz indígena, mas também se identifica como “two-spirit,” um termo de identidade não binária indígena. Lily acredita que a não binaridade é uma via para descolonizar o conceito de gênero, uma perspectiva influenciada por sua herança indígena. Essa conexão com a não binaridade permite que ela perceba o gênero como algo fluído e intrinsecamente ligado à natureza.

Além de sua notável atuação, Lily Gladstone utiliza sua visibilidade para desafiar a sub-representação dos indígenas nas premiações dos Estados Unidos e na indústria audiovisual. Assim enxergamos a ironia de que a perspectiva indígena só foi verdadeiramente considerada quando um cineasta branco trouxe à luz o genocídio sofrido por esse povo.

Quando foi a última vez que vimos um indígena ser reconhecido em premiações ou participar ativamente em produções audiovisuais nos EUA? E, mais ainda, quando foi a última vez que uma obra cinematográfica explorou de maneira significativa as questões indígenas, dando voz e visibilidade às suas histórias? Essa provocação ressoa como um apelo para uma mudança mais profunda e inclusiva na indústria do entretenimento, incentivando a diversidade de narrativas e representações.

Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2024