Cúpula dos Povos é organizada pela Coalition26 e reúne movimentos mundiais de justiça climática (Foto Thomas Hermanns) 

 

Marcos Felipe Sousa, para a Cobertura Colaborativa NINJA na COP26

O último evento do primeiro dia da Cúpula dos Povos (COP 26 Coalition People’s Summit) em Glasgow foi marcado pela idealização de estratégias do Sul Global para a defesa de suas comunidades diante das crises sistêmicas globais. Até o dia 10 de novembro, a cúpula traz debates alternativos às negociações empresarias na agenda oficial da COP26. O evento é organizado por movimentos e campanhas de justiça climática de todo o planeta, como povos indígenas, sindicatos, grupos pela justiça racial e jovens ativistas.

A partir da análise e ações de comunidades locais da América Latina e do Caribe, o evento “Justiça para o povo! Estratégias do sul global para a defesa das comunidades diante da crise sistêmica” expôs métodos de resistências frente aos planos e projetos das corporações empresariais e suas políticas de extrativismo em grande escala.

A Cúpula dos Povos denuncia os impactos e violações de direitos aos povos diretamente afetados pelo modelo desenvolvimentista, assim como as degradações em ecossistemas e territórios. Estes povos exigem reparações e justiça diante dos maiores culpados pelas crises climáticas — grandes empresas, os países do Norte Global, os estados nacionais e as elites em alianças pelo mundo.

Representando a organização Amazon Watch, Sofía Jarrín falou da experiência de organizações equatorianas e criticou a atuação do governo do Equador e a incoerência do seu discurso em torno da sustentabilidade na COP26. Sofía afirmou que o governo se elegeu prometendo uma transição ecológica, mas nos primeiros 100 dias de governo fomentou opressões e incentivos a mineração e a exploração do petróleo. Ela também denunciou a facilitação do governo Lasso para a atuação de empresas estrangeiras com falsas normas ambientais e privatizações.

A Cúpula dos Povos é um espaço para apontar as falsas soluções climáticas e os principais responsáveis pelas crises ecológicas e sociais no globo, mas também um espaço para fortalecimento de estratégias e atuações políticas. Principalmente dos povos do Sul Global. No evento foi defendido mecanismos jurídicos, políticos e organizações em redes com coalizações em várias escalas geográficas, como pontuou Sofía Jarrín. Outro ponto na sua fala foi a defesa de mecanismos jurídicos vinculantes e com compromissos reais, não apenas declarativos e estéreis.

Na Cúpula também foram acusados os discursos e os programas que se vendem como sustentáveis internacionalmente com financiamento de bancos e governos. Segundo Vandria Borari, do povo indígena Borari do Baixo Tapajós, programas de crescimento verde são voltados para companhias internacionais que fomentam a destruição dos territórios indígenas na Amazônia. Vandria condenou os governos globais que prometem um desmatamento zero sem discutir de fato o garimpo ilegal, os ataques aos povos indígenas e o avanço do desmatamento.

Carmen Aligada (Colectivo Casa – Bolívia), também demonstrou a partir da realidade boliviana as contradições e falsas promessas do governo da Bolívia para justiça climática e ambiental. Segundo ela, o governo se posiciona como progressista, mas amplia a fronteira da destruição socioambiental nos territórios indígenas. Carmen critica as promessas de transição energética pelo governo, mas com o fomento às grandes hidroelétricas nos territórios indígenas, assim como o avanço da mineração.

Como estratégia de resistência a injustiças climáticas, econômicas e socioambientais, Ana María Franco (FIAN), defendeu o uso do Direito enquanto instrumento de resistência, mas que sozinho ele não é suficiente. De acordo com Ana, é preciso que este esteja alinhado com os direitos humanos, não com o direito internacional que protege juridicamente aqueles responsáveis pelas crises sociais, ambientais e suas relações comerciais.

Ana Franco defendeu que a governança enquanto estratégia não pode ser dominada em uma hierarquia desigual entre a sociedade civil, empresas transnacionais e Estados Nacionais. Em sua fala também foi pontuado como estratégia o uso da comunicação e denúncia internacional. Todavia, não apenas expondo apenas os problemas socioambientais, mas as alternativas efetivas para a justiça climática, como a agroecologia, as estratégias para a soberania alimentar e as alternativas a cadeias globais de valor.

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