O jogo ‘Kawã na Terra dos Indígenas Maraguá’, desenvolvido por pesquisadores da UFSCar, preserva em formato digital as tradições culturais do povo do Baixo Amazonas

Foto: Divulgação

Por Kaio Duarte / Zona de Propulsão

A digitalização das línguas, mitos e tradições indígenas tem um impacto significativo na preservação e disseminação da cultura. As tecnologias modernas auxiliam na disseminação de novas ideias e conhecimentos antigos, tornando-os acessíveis a todos.

A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), por meio do Laboratório de Pesquisa Linguagens em Tradução (Leetra), desenvolve o Laboratório Leetra, com linhas de pesquisa voltadas ao estudo da literatura, letramento e comunicação interculturais indígenas. O laboratório apresenta uma proposta inovadora de recriação de lendas indígenas sob a forma de jogos digitais.

Destinado aos alunos e professores de escolas do ensino infantil e fundamental, o Kawã tem o objetivo de ajudar nas práticas de alfabetização e letramento interdisciplinares.

“Ao jogar, estudantes e professores encontrarão elementos culturais típicos da cultura tradicional Maraguá – e também elementos das histórias de assombração cultivadas por esse povo indígena amazonense. Encontrarão, ainda, elementos que hoje fazem parte da luta política dos Maraguá em defesa de suas terras, bem como de nossa luta global pela sustentabilidade do planeta e a preservação dos animais”, conta Martins à Agência FAPESP.

O povo Maraguá habita o Baixo Amazonas, às margens do rio Abacaxis (afluente que corre na margem direita do Amazonas, entre o Madeira e o Tapajós), situado em três aldeias no município de Nova Olinda do Norte–AM. Recentemente, as comunidades ribeirinhas e tradicionais que habitam a região (Munduruku e outros) foram vitimadas por ações ilegais de pesca.

“Os Maraguá falam um idioma que combina o nheengatu [derivação do tupi antigo que se tornou a língua geral ou língua franca do país durante o período colonial] com o aruak. E também se comunicam em português. Estão organizados em seis clãs, cujas famílias possuem um mesmo ancestral comum: clã do gavião, clã da vespa, clã do boto, clã da onça-pintada, clã da sucuri e clã do peixe-elétrico. Kawã, o herói do jogo digital, pertence ao clã do Gavião”, afirma Martins.

Com orgulho de serem grandes caçadores, guerreiros e pescadores habilidosos, a pesquisadora conta que os Maraguá incluem em sua cultura a arte de fabricação de vasilhas de cerâmica, ritos de transição para a idade adulta e pinturas corporais. Esses ritos, que exigem provas de bravura e autossuperação, fundamentam a “jornada do herói”, explorada nos roteiros dos jogos desenvolvidos.

“Kawã passa primeiro pelo ritual do Wakaripé, ao qual as crianças se submetem com cerca de 10 anos, que marca a transição da infância para a vida adulta. Depois, aos 15 anos, enfrenta o ritual bem mais desafiador do Gualipãg, que credencia o indivíduo a se tornar caçador-guerreiro-chefe”, conta a pesquisadora.

Os escritores indígenas Elias Yaguakãg, Lia Minapoty, Roni Wasiry Guará, Uziel Guaynê e Yaguarê Yamã foram usados como referência para o jogo. É possível encontrar as obras destes autores com facilidade na internet.

O jogo ‘Kawã na Terra dos Indígenas Maraguá’, pode ser acessado no site https://www.leetra.ufscar.br/pages/game_kawa/