Javier Milei mandou a polícia cercar o prédio da Télam, agência pública de notícias da Argentina, e afastou todos os funcionários. A decisão do presidente argentino ocorre sob protestos de sindicatos e organizações de direitos humanos e da informação, e coloca em xeque a liberdade de imprensa no país.

Nesta segunda-feira (4), organizações representativas dos jornalistas argentinos se reuniram em frente à sede da Télam, em Buenos Aires, para protestar. O movimento, liderado pela Federação Argentina de Trabalhadores de Imprensa (Fatpren), denuncia a medida como um ataque à liberdade de expressão.

“O que estão fazendo é atentar contra a liberdade de expressão. Isso não havia passado na democracia”, declarou Carla Gaudensi, secretária-geral da Fatpren, em entrevista à Rádio Mitre. Gaudensi ressaltou a importância da Télam, que conta com 78 anos de existência e fornece serviços de notícias em todo o país, incluindo texto, fotos, áudio e vídeo.

A justificativa para o fechamento da Télam, segundo o governo, é que a agência tem sido utilizada como “meio de propaganda kirchnerista”.

Intervenção contra liberdade de imprensa

O presidente argentino, de tendência ultraliberal, interveio em todos os meios públicos do país em fevereiro, substituindo as diretorias por gestores nomeados pelo governo, o que gerou preocupações sobre uma possível privatização ou extinção dos meios públicos.

Guillermo Mastrini, professor de Comunicação da Universidade de Quilmes, destacou que ainda não está claro se o governo pode fechar a Télam sem autorização do Legislativo. Ele observou que um decreto de necessidade e urgência modificou as capacidades do governo de intervir em empresas públicas, mas ressaltou que não houve uma decisão oficial sobre o fechamento, sugerindo que a questão provavelmente será objeto de revisão judicial.

A Télam, criada há 78 anos para difundir informações em toda a Argentina, é a única agência de notícias com correspondentes em todas as províncias do país. Com mais de 700 funcionários, produz centenas de matérias e fotografias diariamente, além de manter presença em várias plataformas digitais. A agência enfrentou ameaças de fechamento ao longo de sua história, durante diferentes presidências, mas continua a desempenhar um papel fundamental no cenário midiático argentino.

O sindicato de imprensa de Buenos Aires e a Federação Argentina de Trabalhadores de Imprensa afirmaram que tomarão medidas legais e sindicais para proteger os trabalhadores da agência.