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Em cinco anos, o número de pessoas que passam fome diariamente no Brasil aumentou 43,7% e mais de um terço da população brasileira teve problemas para garantir alimentos em 2017 e 2018, pior índice desde que o levantamento começou a ser feito, mostrou a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) apresentada nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).

Os dados da POF mostram que no biênio 2017-2018, 36,7% dos domicílios tinham algum grau de insegurança alimentar, o que representa 84,9 milhões de pessoas em uma população estimada, para esses anos, de 207 milhões de brasileiros. Desses, 10,9 milhões vivem em residências com restrições alimentares graves, em que, segundo o IBGE, “significa que houve ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre todos os moradores, incluindo as crianças.”

Fatores como gênero e raça do responsável pelas despesas do domicílio impactam na escala, que avalia o nível de acesso a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente. Mulheres e pessoas pretas e pardas possuem os índices mais altos de insegurança grave, na qual a fome é uma realidade dentro de casa. Em mais da metade das casas comandadas por mulheres ou pessoas autodeclaradas pardas, a fome foi vivenciada em alguns momentos entre 2017 e 2018. A incerteza com a alimentação é crescente nessas famílias e também nas de pretos em comparação com as famílias comandadas por homens e brancos.

As regiões Norte e o Nordeste também mostram reflexos maiores da crise na insegurança alimentar. Mais da metade dos domicílios nordestinos, 50,3% informaram estar em situação de insegurança alimentar e 7,1% estavam em situação de fome. Na região Norte a situação é ainda pior: 57% de residências estavam em situação de insegurança alimentar, 10,2% em situação de fome.

Outro apontamento da pesquisa mostra que pelo menos metade das crianças menores de cinco anos viviam em lares com algum grau de insegurança alimentar. Em 2017-2018, 5,1% das crianças com menos de 5 anos e 7,3% das pessoas com idade entre 5 e 17 anos viviam em domicílios com insegurança alimentar grave.