Celine Song. Foto: Reprodução/Oscars

Por Amanda Karolyne*

Muito se falou sobre a falta das indicações de Margot Robbie como Melhor Atriz, e de Greta Gerwig em Melhor Direção, ambas pelo filme Barbie, no Oscar de 2024. E é fato que as duas mereciam as nomeações. Entretanto, precisamos falar sobre como Celine Song, diretora de Vidas Passadas, e Greta Lee, a protagonista do longa-metragem indicado a Melhor Filme, mais do que mereciam o mesmo burburinho e revolta por não estarem indicadas em ambas as categorias.

O filme, que é a estreia de Celine na direção, conseguiu duas indicações nas categorias de Melhor Filme e Melhor Roteiro Original. Ainda assim, fica a reflexão do porquê, na categoria de direção, por exemplo, parecer que existe cota para uma vaga de diretora mulher, que foi para Justine Triet, na direção do filme francês Anatomia de uma Queda.

Vidas Passadas, originalmente intitulado de Past Lives, conta a história de Nora, que imigra de Seul para o Canadá aos 12 anos, o que a faz perder o contato com o melhor amigo dela, Hae Sung, interpretado por Teo Yoo. Muitos anos depois, os dois se reconectam através das redes sociais, e antigos sentimentos são trazidos à tona. Os dois passam a se falar por videochamada e trocas de mensagens à distância. 

O filme é simples, trata de mesclar as experiências pessoais de Celine com o que a licença poética a permitiu, e faz com que cada expectador reaja a partir de suas vivências pessoais também. Já que todos nós temos, de certa forma, um amor de infância e vários “e se?” não respondidos. Mas é como ela aborda isso de maneira técnica, e com a ajuda do elenco, que vemos o grande feito desta película. 

Celine explicou que nas cenas das videochamadas, os dois atores – Greta e Teo, estavam em quartos separados no mesmo set, e ela queria que a experiência de se comunicar através de uma tela com outra pessoa fosse algo mais real. Então, até os momentos em que parece que a chamada está travando, a ideia era que fosse autêntico e os atores não soubessem quando a chamada de Skype ia ter problemas.

Greta Lee. Foto: Reprodução/Oscars

O filme, através das câmeras, nos leva a acompanhar, inicialmente, três pessoas que não conhecemos, meio distantes na tela. Ao longo do filme, quando voltamos para essa cena, essas pessoas, já conhecidas pelo espectador, aparecem na câmera mais de perto. Quando Nora e Hae Sung vão se encontrar finalmente, após todos os anos afastados, a câmera foca em um de cada vez, a princípio, para que o espectador tenha a chance de estar na presença de cada um deles, um de cada vez. 

Outro feito de Celine foram os momentos de contemplação dos personagens, e as cenas em que os detalhes visuais falavam por si só. O silêncio é muito utilizado nos filmes de Sofia Coppola, mas Song também utilizou dele entre os diálogos dos personagens nesta história. Ele era quase que um personagem, nos deixando sentir todo o peso de mais de 20 anos de distância.

É muito animador ver uma diretora de cinema pegar sentimentos reais, amores reais, e os transformar em uma história em que o ordinário vira extraordinário. Além disso, ver a atuação de Greta Lee, assumindo uma personagem feminina que não tem medo de correr atrás dos objetivos dela. Greta, para viver a personagem que transita entre dois mundos, falando dois idiomas, também criou isso, com a ajuda de Celine, e também de John Magaro, que interpreta o marido de Nora, e Teo. 

Embora a categoria de melhor atriz esteja impecável, com atuações fortes, e tenha seus nomes mais cotados a ganhar (Lily Gladstone e Emma Stone), é um pouco frustrante que o trabalho de Greta, na pele de uma protagonista pela primeira vez, não possa ter sido reconhecido.

*Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2024