Bruno Araújo Pereira e o jornalista Dom Phillips, do The Guardian (Reprodução)

 

O indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês, Dom Phillips, correspondente do The Guardian, desapareceram há mais de 24 horas na Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas. Eles sumiram no trajeto entre a comunidade Ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte, pontos de ida e volta, respectivamente, informou em nota, a coordenação da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI). A Univaja representa os povos Marubo, Mayoruna (Matsés), Matis, Kanamary, Kulina-Pano, Korubo e Tsohom-Djapá.

Segundo o alerta, o indigenista e o jornalista se deslocaram com o objetivo de visitar a equipe de Vigilância Indígena que se encontra próxima a localidade chamada Lago do Jaburu (próxima da Base de Vigilância da FUNAI no rio Ituí). O intuito era que o jornalista visitasse o local e entrevistasse os indígenas. Mas a presença deles já vinha despertando a atenção e Bruno, já era alvo de ameaças pelo trabalho que desenvolvia junto aos indígenas, contra invasores.

“Enfatizamos que na semana do desaparecimento, conforme relatos dos colaboradores da Univaja, a equipe recebeu ameaças em campo. A ameaça não foi a primeira, outras já vinham sendo feitas a demais membros da equipe técnica da Univaja, além de outros relatos já oficializados para a Policia Federal, ao Ministério Público Federal em Tabatinga, ao Conselho nacional de Direitos Humanos e ao Indigenous Peoples Rights International”, diz trecho da nota.

Ao informar o percurso de Bruno e Dom Phillips, a nota descreve que os dois chegaram no local de destino (Lago do Jaburu) no dia 03 de junho de 2022 às 19:25h. No dia 05/06 os dois retornaram logo cedo para a cidade de Atalaia do Norte, porém, antes pararam na comunidade São Rafael, visita previamente agendada, para que o indigenista Bruno Pereira fizesse uma reunião com o líder comunitário apelidado de “Churrasco”, com o objetivo de consolidar trabalhos conjuntos entre ribeirinhos e indígenas na vigilância do território bastante afetada pelas intensas invasões.

Pelo que consta nas informações trocadas via Dispositivo de Comunicação Satelital SPOT, eles chegaram na comunidade São Rafael por volta das 6 horas, onde conversaram com a esposa do “Churrasco”, visto que este não estava na comunidade e depois partiram rumo a Atalaia do Norte, viagem que dura aproximadamente duas horas. Assim, deveriam ter chegado por volta de 08h/09h da manhã na cidade, o que não ocorreu.

Sem notícias do indigenista e do jornalista, às 14h, uma primeira equipe da Univaja saiu em busca deles. Os indígenas são exímios conhecedores da região.

“A equipe cobriu o mesmo trecho que Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips supostamente teriam percorrido, percorrendo, inclusive, os “furos” do rio Itaquaí, mas nenhum vestígio foi encontrado. A última informação de avistamento deles é da comunidade São Gabriel – que fica abaixo da São Rafael – com relatos de que avistaram o barco passando em direção a Atalaia do Norte. Às 16h, outra equipe de busca saiu de Tabatinga, em uma embarcação maior, retornando ao mesmo local, mas novamente nenhum vestígio foi localizado”, diz a nota.

O comunicado ressalta também, que Bruno é pessoa experiente e que conhece bem a região, pois atuou como coordenador Regional da Funai de Atalaia do Norte por anos. Os dois desaparecidos viajavam com uma embarcação nova, 40 HP, 70 litros de gasolina, o suficiente para a viagem e 07 tambores vazios de combustível.

O Ministério Público Federal, Polícia Federal e Exército foram acionados para ajudar nas buscas.