Mulheres são da Terra Indígena (TI) Apinajé, no norte do Tocantins, e foram certificadas pelo Ibama para conduzir trabalho

Foto: Bruno Kelly

“Somos 29!” É o que bradam em alto e bom som as mulheres da primeira brigada feminina voluntária da Amazônia. Elas são da Terra Indígena (TI) Apinajé, no norte do Tocantins, e vão a campo meses após concluírem um curso certificado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama).

Segundo esse método, o fogo é administrado de forma controlada na vegetação em pontos estratégicos. Isso evita a propagação de incêndios na fase seca mais crítica, que vai de agosto a outubro. Maria Aparecida Apinajé, professora, integra o esquadrão voluntário que atua junto à brigada contratada. Ela é uma das idealizadoras da iniciativa, inspirada na brigada feminina xerente, que atua na vegetação de Cerrado, mas que, pelo mapa de jurisdição, está dentro da Amazônia Legal.

“Nós buscamos ampliar o protagonismo da mulher indígena. Nosso projeto é preservar, manter nossas tradições, levar educação ambiental, conscientizando contra as queimadas, contra a destruição do nosso território”, explica Cida, como é chamada.

A primeira operação ocorreu perto da aldeia Abacaxi, uma das 62 dentro da TI Apinajé, neste mês. A área é avaliada como extremamente vulnerável, caso o fogo se aproxime de suas redondezas nos meses mais secos que estão por vir. Dados do programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostram que, depois de atingir em 2018 a menor marca dos últimos dez anos, o número de focos de calor no território indígena voltou a subir. Os cálculos de área queimada feitos pelo Mapbiomas acompanham as detecções feitas pelos satélites. Só em 2022 foram 192 km² de vegetação atingida.

Testemunha dos estragos deixados e da consequente destruição da floresta, das árvores frutíferas, dos animais de caça e das ervas medicinais, Marlucia Apinajé diz que foi preciso muita coragem para vencer a timidez e se juntar às mulheres brigadistas. Na aldeia da Prata, uma das mais próximas ao traçado inicial da rodovia Transamazônica, ela cuida de um viveiro para reflorestar as áreas degradadas. “Eu quero plantar em algumas nascentes que já estão secando. Estou lutando para não perdermos nossas plantas, nossos remédios, não deixar tudo se acabar”, diz.

Entre tantas tarefas que acumula na liderança de projetos entre os apinajé, Cida segue em busca de apoio externo para atividades de educação ambiental nas aldeias e suporte às mulheres.

“A gente busca melhorias para o nosso futuro, para nossas crianças. Se nossos ancestrais lutaram para que nós tivéssemos um território, por que não cuidar hoje do nosso território para as futuras gerações? É como herança também”, comenta.

Via DW (Esta reportagem foi produzida com apoio da bolsa Dom Phillips, uma chamada especial feita pelo Rainforest Journalism Fund em parceria com o Pulitzer Center.)