Por Nicole Grell Macias Dalmiglio*

A incorporação da Inteligência Artificial (IA) no enfrentamento das mudanças climáticas tem sido aclamada como um divisor de águas nos últimos anos. Desde a previsão de eventos climáticos extremos até o impulso à transição para energias renováveis, a IA demonstrou um potencial inovador na abordagem dos desafios ambientais.

No cenário marcante da COP 28, a discussão na sessão “AI for Climate Action”, realizada na manhã do dia 3 de dezembro de 2023, revelou um panorama fascinante sobre o papel crescente da IA. Participaram especialistas de renome, incluindo Kate Brandt (Chief Sustainability Officer na Google), Richard Duke (Enviado Especial Adjunto para o Clima dos EUA), Johan Rockström (Diretor Adjunto do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático na Alemanha) e Damilola Ogunbiyi (CEO da Sustainable Energy for All – SEforALL).

A capacidade da IA em processar grandes volumes de dados, discutida por Johan Rockström, destaca-se como um trunfo na compreensão dos padrões climáticos e na antecipação de eventos extremos. Essa habilidade acelerada pode fornecer suporte valioso para a tomada de decisões relacionadas às políticas sobre mudanças climáticas, representando um avanço significativo.

No entanto, este entusiasmo é contrabalanceado por preocupações legítimas e críticas. A autonomia dos algoritmos, responsáveis por decisões cruciais, levanta questões éticas sobre transparência e responsabilidade. Como essas decisões afetam comunidades vulneráveis? Quão acessíveis e equitativas são essas tecnologias para todos?

As críticas concentram-se na possibilidade de viés nos algoritmos, resultando em desigualdades na aplicação das soluções baseadas em IA. Comunidades sem recursos adequados podem ficar à margem, aprofundando as disparidades sociais e econômicas. A natureza autônoma desses algoritmos também suscita inquietações quanto à prestação de contas e à falta de compreensão pública sobre o funcionamento interno dessas tecnologias.

Damilola Ogunbiyi, CEO da SEforALL, ao destacar a urgência da transição para fontes de energia mais sustentáveis, também reconheceu os desafios éticos inerentes. A equidade no acesso à IA e regulamentações claras para orientar o desenvolvimento responsável dessas soluções foram destacadas como elementos cruciais.

Em última análise, a COP 28 marcou não apenas um avanço na convergência entre tecnologia e meio ambiente, mas também uma chamada para uma abordagem crítica e ética. Enquanto a IA promete ser uma aliada valiosa nas ações climáticas, é essencial confrontar as críticas e desafios éticos de maneira proativa, garantindo que seus benefícios sejam distribuídos justa e equitativamente para um futuro sustentável.

Para aqueles interessados em acompanhar a Sessão “AI for Climate Action” na íntegra, o link direto está disponível em: https://unfccc.int/event/session-2-ai-for-climate-action

*Nicole Grell Macias Dalmiglio é Pesquisadora do Center for Artificial Intelligence (C4AI-USP). Mestre em Gestão de Políticas Públicas pela USP (2023). Bacharel em Relações Internacionais pela UNISANTOS (2020).