Cientistas homenagearam mulheres negras em nome de algas vermelhas descobertas no Brasil

Conceição Evaristo, por Rafael Arbex/Folhapress. Angela Davis, por Deana Lawson. Djalmila Ribeiro, por Luís Crispino/Claudia

Da próxima vez que for à praia, você pode caminhar pelas pedras e talvez esteja diante de um exemplar de Hypnea davisiana, Hypnea djamilae ou de Hypnea evaristoae.

A pesquisadora brasileira Priscila Barreto, da Universidade Federal do ABC, liderou um grupo de cientistas que descobriu três novas espécies de algas vermelhas, e que receberam o nome de três grandes mulheres negras: Djalmila Ribeiro (Hypnea djamilae), Conceição Evaristo (Hypnea evaristoae) e Angela Davis (Hypnea davisiana).

Cientistas brasileiras homenageiam mulheres negras. Foto: reoprodução/Linkedin

O artigo “Phylogenomics and taxon-rich phylogenies of new and historical specimens shed light on the systematics of Hypnea (Cystocloniaceae, Rhodophyta)” está em processo de publicação na revista Molecular Phylogenetics and Evolution, um periódico altamente conceituado na área.

O paper é assinado por uma maioria de mulheres, inclusive nas posições de maior prestígio, a primeira e última autoria. Entre as autoras, há mulheres brancas, asiáticas e, especialmente uma mulher negra e brasileira como primeira autora, ou seja, liderando a pesquisa.

Priscila Barreto de Jesus é baiana e viveu no bairro de Cajazeiras, na periferia de Salvador, durante toda a sua vida acadêmica. Só saiu depois de terminar o doutorado, quando foi aceita para o pós-doutoramento na USP, sob a orientação da Dra. Mariana Cabral de Oliveira, do Instituto de Biosciências.

Priscila decidiu homenagear essas três mulheres pela relevância que tiveram no seu processo de reconhecimento como mulher negra e como cientista. O artigo é um dos resultados da sua pesquisa pós-doutoral, realizada em parceria com um grupo de pesquisa da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, do qual fazia parte uma outra cientista baiana, Goia Lyra, que divide com Priscila a primeira autoria do artigo.

Ambas desenvolvem pesquisas com algas vermelhas de grande relevância econômica por serem produtoras de ficocolóides (agaranas ou carragenanas) utilizados nas indústrias alimentícia, farmacêutica e de cosméticos. Essas algas têm ampla distribuição tropical e são comuns na costa brasileira. Da próxima vez que for à praia, você pode caminhar pelas pedras e talvez esteja diante de um exemplar de Hypnea davisiana, Hypnea djamilae ou de Hypnea evaristoae, como foram batizadas as três espécies novas.

A escritora Djamila Ribeiro ficou emocionada com a homenagem e fez uma publicação na sua página do Instagram com os detalhes do artigo. Essa iniciativa é muito importante para a divulgação científica, atividade à qual a Dra. Pricila se dedica com grande interesse, gerenciando as páginas @algasporelas e @democratizando.saberes.

“Muito obrigada pelo reconhecimento tão especial! Nunca imaginei viver algo assim, fiquei muito tocada. Viva as nossas pesquisadoras”, disse Djalmila Ribeiro.