O Grupo Regional de H.I.J.O.S. Buenos Aires denunciou que se trata de uma tentativa de incutir medo não apenas na vítima, mas em toda a comunidade de direitos humanos

Foto: Fede Closs Fotos

Uma ativista do grupo de direitos humanos H.I.J.O.S. (Filhos e Filhas pela Identidade e Justiça contra o Esquecimento e o Silêncio) foi atacada por dois homens dentro da sua própria casa, em Buenos Aires, na Argentina, tendo sido golpeada e abusada sexualmente, além de ter sido ameaçada com arma de fogo, no início de março. Os agressores  afirmaram que não estavam ali para roubar, mas sim para assassiná-la.

Antes de fugirem, pintaram numa das paredes do quarto da vítima: “VLLC”, sigla para “Viva a liberdade, Carajo”, o slogan imposto por Javier Milei durante sua campanha à presidência, colocando em evidência a motivação política dos ataques. “Eles nos pagam por isso ”, disseram.

“Hoje, em plena democracia, um governo eleito pelo povo permite o exercício do terror e da crueldade através de todos os canais à sua disposição. “Quero que a Justiça identifique quem fez isso comigo, mas também que encontre a motivação por trás disso”, afirmou a jovem, em entrevista à Página/12 . “Quem passa a vida cuidando para não ser agredido por ser ativista de direitos humanos?”, questiona.

Agustín Cetrángolo, representante do grupo regional de H.I.J.O.S. em Buenos Aires, descreveu o atentado como uma tentativa de incutir medo não apenas na vítima, mas em toda a comunidade de direitos humanos. O comunicado público emitido pelo grupo ressaltou que nada de valor foi roubado durante o ataque, indicando que os invasores pareciam ter como alvo específico as informações do grupo contidas em pastas que foram levadas da residência.

A responsabilidade pelo atentado foi atribuída ao governo nacional, liderado por Javier Milei, com exigências imediatas de esclarecimento por parte do Poder Judiciário. O Grupo H.I.J.O.S. destacou a correlação entre o incidente e os discursos de ódio promovidos pelas autoridades do país, que têm alimentado uma atmosfera de violência contra ativistas de direitos humanos.

A notícia fez soar todos os alarmes poucos dias antes do novo aniversário do golpe de Estado de 1976, o primeiro no quadro de um governo nacional que nega abertamente os crimes contra a humanidade a que as organizações de direitos humanos – como aquela que constitui o jovem agredida—, organizações políticas, sindicais e sociais dirão “Nunca mais” neste domingo, 24 de março.

“ Minha vida mudou muito, está totalmente suspensa no ar. Conseguiram isso, que é também terror e impunidade”, afirmou a vítima. O caso está sendo investigado pela Justiça nacional e federal.

Movimentos de direitos humanos repudiam agressão

A presidenta das Avós da Praça de Maio, Estela Barnes de Carlotto, em entrevista à rádio El Destape, qualificou o ato como “abominável” e instou às autoridades a conduzirem uma investigação completa para responsabilizar os culpados.

O governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, uniu-se ao coro de indignação, classificando o incidente como “gravíssimo” e instando à sua imediata elucidação. “Não podemos permitir que o ódio e a violência política se instalem em nosso país”, afirmou Kicillof, ressaltando a importância de preservar a democracia e a paz social.

A organização de esquerda kirchnerista La Cámpora também se pronunciou, exigindo o esclarecimento dos fatos e advertindo contra o ressurgimento da violência política e dos discursos de ódio neste período crítico, marcado pelos 48 anos do golpe genocida.

*Com informações da Página 12