Foto: Katarine Almeida

Por Laura Abreu para a NINJA Esporte Clube

Passe de bola pra cá, drible pra lá e avança para o gol. Por mais que pareça, a descrição não é de um jogo de futebol de campo e nem de futsal. Na verdade, é da modalidade futebol em cadeira de rodas, da qual o Brasil é pioneiro da América Latina!

A modalidade é praticada mundo afora e é reconhecida pelo Comitê Paralímpico Internacional, mas não participa, ainda, das Paralimpíadas. Essa realidade pode estar prestes a mudar, uma vez que está sendo pleiteada a inclusão do futebol em cadeira de rodas nos Jogos Paralímpicos de 2028, que será em Los Angeles.

História e cenário do futebol em cadeira de rodas no Brasil

Para entender melhor sobre o esporte, voltaremos no tempo. As primeiras caminhadas da modalidade foram em 1978 na França, onde a prática era usada para a reabilitação de jovens com deficiências severas. Posteriormente, o Power Soccer, como também é chamado, ganhou outros rumos e chegou até o Canadá, que desenvolveu o chamado Motor Ball. Foi somente em 2006 que a Federação Internacional de Futebol em Cadeira de Rodas (FIPFA) foi criada.

No Brasil, essa prática é relativamente nova e começou a dar indícios em meados de 2010, no Rio de Janeiro, com um grupo de amigos, que tinham o intuito de desenvolver o Power Soccer no país. Foi, então, criado o primeiro clube da modalidade do país e da América Latina, o Clube Novo Ser. Em 2011, mais um passo para a consolidação do esporte no Brasil foi dado com a criação da Associação Brasileira de Futebol em Cadeira de Rodas (ABFC). Após apenas cinco meses, a associação já possuía o reconhecimento da FIPFA e se tornava o primeiro membro sul-americano a praticar a modalidade.

Voltando aos dias atuais, o país conta com clubes no Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Ceará. Dentre as competições brasileiras disputadas, tem-se o Campeonato Brasileiro de Futebol em Cadeira de Rodas.

O Rio de Janeiro Power Soccer é um dos clubes brasileiros. Fundado em 2014, o time possui quatro títulos nacionais e a Champions Cup de 2019, participou de algumas edições da Libertadores das Américas e esteve presente por duas vezes, como convidados, no evento multi esportivo Défi Sportif.

O time Rio de Janeiro Power Soccer foi fundado em 2014 e é apelidado carinhosamente de “Rio de Janeiro”. Descrição: Na foto, à frente tem-se oito atletas da modalidade Power Soccer em cadeiras de rodas motorizadas. Atrás, há outras quatro pessoas que estão em pé. Todas posam à frente de um banner grande com o logo dos patrocinadores. Acima do banner, há uma bandeira da Argentina, do Canadá, do Uruguai, do Brasil e dos Estados Unidos, respectivamente. A foto foi tirada em uma quadra.Foto: Katarine Almeida.

Bruno Fernandes, presidente do time Rio de Janeiro, como é carinhosamente apelidado, explica que os atletas que praticam a modalidade são pessoas com deficiência de alto grau de comprometimento físico, sendo, geralmente, pessoas com lesões medulares, distrofia muscular de Duchenne e paralisias cerebrais. O que une essas pessoas ao esporte é a paixão.

“É uma paixão levada a sério com bons hábitos durante a semana e treinos semanais aos sábados. Ainda não é rentável a ponto deles viverem do esporte. Muito pelo contrário. Não ganham nenhuma renda com isso. Por outro lado, é um catalisador para escolhas em todas as outras esferas da vida: pessoal, amorosa, familiar e profissional”, declara Fernandes.

O presidente do time faz a colocação, também, que o Power Soccer é uma modalidade cara e que necessita do apoio de patrocinadores, devido ao uso da cadeira de rodas motorizada e adaptada.

“Com o dólar alto, os custos aumentaram bastante para aquisição de cadeiras, que custam cerca de U$ 10 mil, e viagens. Às vezes, um atleta chega a levar 3 cadeiras para as disputas e isso tem um custo de logística, pessoal e despacho bem alto”, pontua Fernandes.

Como funciona a partida?

Formado por duas equipes com quatro atletas cada, o Power Soccer é disputado em uma quadra de basquete (14-18m x 25-30m) em dois tempos de 20 minutos. Interessante observar que nessa modalidade não tem setorização entre gênero, homens e mulheres competem juntos na quadra.

Os atletas são classificados em duas classes: a PFF1, para atletas com comprometimento severo, e a PFF2, para aqueles com comprometimento moderado na elegibilidade mínima. São permitidos até dois atletas PFF2 na partida.

Como o próprio nome já diz, é utilizado cadeiras de rodas motorizadas, onde os atletas controlam pela mão o joystick. Para poder realizar os passes da bola, a cadeira conta com um “parachoque” (footguard).

Para a modalidade, é usada cadeira de rodas motorizada e adaptada com o parachoque.
Descrição da Imagem: Dois atletas em cadeiras de rodas motorizadas disputam a bola. O atleta da esquerda veste uma camiseta azul e uma calça preta, possui cabelos baixos e pretos e é branco. À direita, tem-se um atleta de costas para a foto vestindo uma camiseta e shorts azul e branco. A foto foi tirada na quadra.
Créditos: Katarine Almeida.

Outra particularidade da modalidade é a bola, que possui um diâmetro de 32,5 centímetros e é 1,5 maior que uma bola de futebol de campo. Quanto ao antidoping, é realizado um teste de velocidade da cadeira (Speed Test), em que a arbitragem verifica a velocidade, que não pode passar de 10km/h durante a partida.

Processo para inclusão nas Paralimpíadas

Segundo Fernandes, a modalidade está sendo pleiteada para que seja incluída nos Jogos Paralímpicos de 2028, de Los Angeles. Contudo, há um longo processo a ser percorrido para a inserção de modalidades, que inicia com o reconhecimento pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC) e com a estruturação internacional com a Federação Internacional de Futebol em Cadeira de Rodas (FIPFA). Após esse reconhecimento, é necessário verificar se a modalidade está sendo praticada pelo número mínimo de atletas, países e continentes, monitorada pelo IPC. Só, então, as federações internacionais enviam o pedido de análise da modalidade.

O presidente da ABFC, Marcos Antonio, afirmou que a modalidade é reconhecida, mas não é afiliada ao IPC. O movimento para a inclusão das modalidades é mundial, e acontece coordenado pelas federações, no caso do Brasil, pela FIPFA.

“Quando acaba os jogos, começa uma nova avaliação de quem entra a dois jogos, sempre trabalham com duas edições a frente… Nos últimos três anos, nós fomos acionados várias vezes para a comprovação de documentos. Esse movimento é feito com todos os países, e a Federação Internacional monta um dossiê sobre a modalidade no mundo, apresenta ao IPC que avalia e define se está apta ou não. Então sempre sai uma modalidade e entram uma ou duas outras. Para a edição de 2024, saiu uma modalidade, mas não entrou nenhuma outra. A gente já estava, praticamente, na etapa final disputando com duas modalidades. Por uma decisão inédita, não entrou ninguém”, explicou o presidente.

Através das redes sociais da associação, o Antonio destacou alguns aspectos que devem ser considerados para incorporar o futebol de cadeiras de rodas na competição.

https://www.instagram.com/p/CT9qgfxDoEx/

Quanto às expectativas para a inclusão da modalidade nos jogos de 2028, Antonio diz acreditar que é possível que seja incluída e que, talvez, o fato de que nos Estados Unidos o esporte é praticado, isso ajude no processo.