Em entrevista ao G1, docentes e diretores de escolas públicas afirmam que tentam ajudar as famílias em situação de vulnerabilidade, mesmo sendo uma irregularidade.

Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução G1

Por Kaio Duarte

Devido à crise sem precedentes, alunos carentes estão levando sigilosamente a merenda servida nas escolas públicas, para familiares que passam fome. Professores esclarecem que a ajuda, apesar de ilegal, é por uma “razão humanitária”.

“A gente faz o que não pode fazer: chama as crianças fora do horário e dá merenda para elas levarem para casa. Às vezes, a própria família vem aqui pedir comida, como uma mãe que me disse: ‘o desespero me fez perder a vergonha — estou com fome’”. Relata a diretora de uma escola pública em São Paulo.

A liberação da merenda, está sendo organizada por redes de apoio formada por merendeiras, professores, coordenadores e diretores pedagógicos. Detectando os casos mais críticos de famílias com insegurança alimentar e os meios para ajudar-lhos, estes profissionais criaram uma força-tarefa do bem. As colaborações também contam com arrecadações, realizadas pelos servidores, que doam alimentos ou dinheiro para estas famílias.

“Uma vez, um menino pegou tanta bolacha e guardou [na bolsa], que tivemos de chamá-lo na saída, discretamente. Explicamos que ele podia levar tudo para casa, mas que, quando precisasse, poderia pedir. Ele saiu pulando de alegria. Depois, montamos uma campanha de arrecadação”, conta a diretora.

Em casos extremos, a única alimentação do dia é fornecida pela escola. “Minha filha traz a merenda para a gente jantar e almoçar”, disse a mãe de dois alunos, que conta somente com o Auxílio Brasil (R$ 400) para lidar com todas as despesas da casa.

Apesar da situação, especialistas reforçam a ilegalidade da prática, pois o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é exclusivo para a nutrição dos estudantes. Portanto, caso descoberto, a Secretaria de Educação pode ser responsabilizada por órgãos de controle, por desvio de recursos públicos.

Segundo docentes, a ação humanitária não parará até que todas as famílias consigam manter pelo menos o básico de alimentação, com um amparo maior do governo.