A fantoche Little Amal, de 3,5 metros, representa uma menina refugiada da Síria (Kiara Worth/UNFCCC)

Graziella Albuquerque, da Cobertura Colaborativa NINJA na COP26

Nesta terça-feira (9), durante a COP26, a discussão sobre os impactos das mudanças climáticas na vida das mulheres e meninas, tomou conta dos palcos da conferência. De mãos dadas com a ativista climática de Samoa Brianna Fruean, a fantoche Little Amal, de 3,5 metros, representando uma menina refugiada da Síria, abriu o ‘Dia do Gênero’ na COP26, em Glasgow.

Little Amal, viaja pela Europa há quatro meses, com o objetivo de promover a conscientização sobre as crianças refugiadas em meio às mudanças climáticas, e lembrar que as mulheres representam nada menos que 80% (oitenta por cento) das pessoas refugiadas por desastres e mudanças climáticas no mundo.

Diante da plateia de negociadores do clima, a dupla trocou presentes, Samoa Brianna presenteou Amal com uma flor, representando a luz e a esperança. Amal retribuiu com um saco de sementes. Conforme dito por ela, as sementes são para lembrar os negociadores de “seu papel como plantadores de um futuro global” e que o verdadeiro trabalho acontecerá após as negociações climáticas, quando os esforços devem começar a colocar palavras em ação para limitar o aumento da temperatura global. Além das sementes, ela entregou às negociações uma carta aberta, organizada pelos ativistas climáticos da AVAAZ, pedindo cortes urgentes nas emissões e assinada por 1,8 milhão de pessoas em todo o mundo.

A ativista Samoa Brianna, afirmou: “Nós embarcamos aqui para uma jornada, de dois lugares muito diferentes, mas estamos conectadas pelo fato de estarmos vivendo em um mundo quebrado que tem sistematicamente marginalizado mulheres e meninas. Especialmente mulheres e meninas de comunidades vulneráveis”.

O presidente das negociações sobre o clima, Alok Sharma, do país anfitrião, disse que gênero e clima estão profundamente interligados. “Sabemos que o impacto da mudança climática afeta mulheres e meninas de forma desproporcional”, disse ele, acrescentando que as tentativas de lidar com a mudança climática foram mais eficazes quando as mulheres e meninas foram colocadas no centro desses esforços.

A relação entre a equidade de gênero e a crise climática

Aquecimento global deve agravar a desigualdade de gênero, afetando a saúde de mulheres e meninas, expondo, principalmente, as que residem em países mais pobres e com grandes desigualdades sociais, pois elas percorrerão distâncias maiores para coletar água, alimentos, e outros meios para garantir sua subsistência serão afetados.

A situação deve provocar, inclusive, uma exposição maior das mulheres a situações de violência sexual e de gênero, também coloca em risco a saúde materna e neonatal, com pesquisas indicando que a elevação da temperatura pode aumentar a probabilidade de natimortos. A pandemia do Covid-19 agravou esta situação e colocou ainda mais as mulheres em situação de vulnerabilidade em diversas regiões do mundo.

O reconhecimento da contribuição real ou potencial feminino para a sobrevivência do planeta e para o desenvolvimento permanece limitado. A desigualdade de gênero e a exclusão social continuam a aumentar os efeitos negativos da gestão ambiental insustentável e destrutiva sobre mulheres e meninas. Normas sociais e culturais discriminatórias persistentes, como acesso desigual à terra, água e outros recursos e a falta de participação nas decisões relativas ao planejamento e gestão da natureza, muitas vezes levam à ignorância das enormes contribuições que podem dar.

Porque as mulheres podem contribuir?

O argumento é que investir em mulheres e meninas cria efeitos em cascata que são sentidos em comunidades inteiras, o conhecimento de linha de frente que elas possuem é necessário agora mais do que nunca. Por milênios, as mulheres tiveram uma relação especial com a natureza. Elas contribuem enormemente para o bem-estar e o desenvolvimento sustentável de suas comunidades, bem como para a manutenção dos ecossistemas, da diversidade biológica e dos recursos naturais do planeta.

A ativista indígena do povo Wapixana na Guiana, Immaculata Casimero, trabalha para ajudar a dar mais poder às mulheres em sua comunidade. Em entrevista à ONU News, ela revelou que conduz sessões de capacitação porque gostaria de ver mais mulheres na liderança. Em grande parte do tempo, existem apenas homens exercendo liderança e o patriarcado “precisa ser quebrado”.

A ativista disse que mulheres podem liderar melhor do que os homens como acontece em casa, cuidando dos filhos, e tendo em conta que “toda a humanidade existe” por causa delas. Casimero também apontou que mulheres indígenas são veículos do conhecimento tradicional para as novas gerações, e têm um papel extremamente importante no combate às mudanças climáticas.

Em declarações feitas no Pavilhão Indígena na COP26, a jovem ativista Maja Kristine Jama disse que a mudança climática no Ártico está acontecendo muito rápido. Ela destacou que o tempo vem alterando acompanhado de muita instabilidade. Onde os invernos são instáveis, o congelamento do gelo não ocorre como deveria. Todo o conhecimento tradicional para administrar a paisagem também está mudando.

No evento, Elle Ravdna Nakkakajarvi disse aos líderes mundiais presentes na conferência que as escutem e não digam apenas que o farão, declarou: “Não façam promessas vazias, porque somos nós quem sentimos as mudanças climáticas em nossos corpos e temos conhecimento sobre as terras e águas em nossas áreas e podemos encontrar soluções. Nós merecíamos ser ouvidas.”

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), apresentou uma atualização do último Relatório de Lacunas de Emissões. A nova versão inclui dados de promessas feitas desde o início da conferência, o relatório revelou que com as atuais contribuições e promessas nacionais, o mundo estava a caminho de reduzir cerca de 7,8% das emissões anuais de gases de efeito estufa em 2030, uma lacuna entre os 55% necessários para conter o aquecimento global para 1,5º C. A diretora executiva da agência, Inger Andersen, ressalta que o mundo ainda “não está fazendo o suficiente, não está onde precisa estar e precisa dar um passo à frente com muito mais ação, urgência e muito mais ambição”.

 

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