Conheça os longas que chegaram à lista de pré-seleção para Melhor Filme Internacional mas, em uma disputa economicamente desigual, não chegaram à restrita lista final

“Marte Um”, de Gabriel Martins vem ganhando o público e a crítica especializada. Foto: Divulgação.

Por Pedro Henrique Boaventura para a Cobertura Colaborativa Cine NINJA do Oscar 2023

Sabemos a dor que foi abrir a lista dos 15 filmes pré-selecionados para a categoria de Melhor Filme Internacional e não ver Marte Um entre eles, depois de uma trajetória realmente épica do longa de Gabriel Martins, feito com uma pequena produtora mineira independente e periférica, a Filmes de Plástico, que foi acumulando prêmios em festivais e se tornando um sucesso de público. Sendo escolhido como representante brasileiro para indicação ao Oscar, o drama familiar sonhador de Gabito teve de criar estratégias para a campanha de indicação do filme, como a veiculação internacional do longa pela distribuidora da cineasta Ava DuVernay, num cenário de competição bastante desigual que envolve muito dinheiro. Além de Marte Um, outros filmes não chegaram até a pequena lista final de cinco indicados, mas estiveram na lista de pré-selecionados e merecem mais atenção.

Holy Spider (Dinamarca)

Zar Amir Ebrahimi, em Holy Spider. Foto: Divulgação

Holy Spider, dirigido por Ali Abbasi (Border, 2018), conta a história real do serial killer de mulheres prostitutas no Irã, que dividiu a opinião pública do país no início dos anos 2000 e se tornou um caso político. A trama acompanha a investigação da jornalista Arezzo, interpretada por Zar Amir Ebrahimi, cuja interpretação rendeu a ela o prêmio de Melhor Atriz em Cannes. Nesse thriller político de tom neo noir, Arezzo chega à cidade sagrada de Mashad e vai atrás do assassino que diz estar limpando as ruas do pecado. O filme representa a Dinamarca, visto que o diretor iraniano é naturalizado no país e também pelo fato da produção do filme ter sido proibida no Irã, sendo assim, gravado na Jordânia. Holy Spider chega no streaming MUBI no dia 10 de março.

Return to Seoul (Camboja)

Park Ji-Min, como Freddie, em Return to Seoul. Foto: Divulgação

Return to Seoul, dirigido por Davy Chou, acompanha a viagem de Freddie, uma jovem francesa de 25 anos, que volta pela primeira vez à Coréia do Sul, sua terra natal, onde foi adotada quando era bebê. Nesse drama de amadurecimento, tocante e divertido, Freddie não busca apenas seus pais biológicos mas também sua própria identidade. Nesse percurso ela experiencia intensamente a vida de Seoul. A personagem de Freddie também têm inspiração no diretor francês Davy Chou, filho de cambojanos que fugiram do país durante a revolução, ele retornou ao país também com 25 anos.

Joyland (Paquistão)

Joyland. Foto: Divulgação

Joyland, dirigido por Saim Sadiq, conta a história de Haider, filho mais jovem de uma família conservadora que secretamente entra para um grupo de teatro erótico, lá ele conhece a dançarina Biba, uma mulher transexual, por quem se apaixona, consequentemente, essa relação de amor se torna uma polêmica entre a família de Haider, que expressam diferentes pontos de vista. Mesmo não sendo um filme tão radical na questão sexo-gênero e identidade, buscando conversar com um público conservador mais amplo, ele foi censurado no Paquistão, provando que, naquele contexto, ele é sim radical.

Saint Omer (França)

Alice Diop, filha de imigrantes senegaleses, fez sua estreia em filmes de ficção e com ele já foi premiada em Veneza. Foto Divulgação

Saint Omer, dirigido por Alice Diop, é baseado numa história real, que acompanha Rama, uma escritora que assiste o julgamento de Laurence, acusada de matar sua filha de 15 meses depois de abandoná-la em uma praia durante a maré cheia. Rama tem o objetivo de usar a história para escrever uma adaptação moderna do clássico mito de Medeia, mas com o desenvolvimento da trama a romancista se vê cada vez mais afetada e interligada com a história de Laurence. Nesse drama de tribunal que explora a maternidade, a até então documentarista Alice Diop, filha de imigrantes senegaleses, faz sua estreia em filmes de ficção e com ele já recebe o prêmio especial do júri em Veneza.

Last Film Show (Índia)

Last Film Show, dirigido por Pan Nalin. Foto: Divulgação

Last Film Show, dirigido por Pan Nalin, conta a história de um garoto de 9 anos, filho de uma família brâmane (casta mais alta) economicamente decadente, morador de um vilarejo afastado que se apaixona pelo cinema e sonha em se tornar um cineasta, passando o verão vendo filmes pela cabine de projeção à contragosto do pai, que acha o ambiente do cinema sujo demais para os brâmanes. Esse drama divertido de transgressão de castas é um tributo ao cinema e foi escolhido pela Índia como seu representante, gerando polêmica pela não indicação do sucesso RRR (Revolta, Rebelião, Revolução).

Corsage (Áustria)

Vicky Krieps, como Imperatriz Elisabeth. Foto: Divulgação

Corsage, dirigido por Marie Kreutzer, é um relato ficcional dos últimos anos de vida da imperatriz Elisabeth da Áustria. Em 1877, ela completa 40 anos, é oficialmente considerada velha e busca manter sua imagem pública, de beleza idolatrada e conhecimentos de moda invejáveis. Nesse drama histórico que explora a opressão patriarcal na mais poderosa posição social da época, vemos uma mulher obstinada e rebelde carregada das contradições de sua identidade, se tornando decadente como a ideia de monarquia na época mas tentando manter sua postura com um apertado espartilho.

Cairo Conspiracy (Suécia)

Cairo Conspiracy, dirigido por Tarik Saleh. Foto: Divulgação

Cairo Conspiracy, dirigido por Tarik Saleh, conta a história de Adam, filho de um pescador, que recebe uma bolsa para estudar na universidade de Al-Azhar, no Cairo, epicentro de poder dos mulçumanos sunitas. Logo após sua chegada à cidade, o Grande Iman, maior líder religioso da universidade, morre e com isso Adam se vê no meio de uma disputa da elite política e religiosa para eleger o candidato que irá suceder o dirigente falecido. Nesse thriller político do diretor suéco e filho de egípcios, que ganhou o prêmio de Melhor Roteiro em Cannes, vemos um panorama das disputas de poder no Egito, atravessadas por muito mistério e suspense.

The Blue Caftan (Marrocos)

The Blue Caftan, dirigido pela marroquina Maryam Touzani. Imagem: Divulgação

The Blue Caftan, da diretora marroquina Maryam Touzani, acompanha a vida do alfaiate Halim, casado com Mina e com quem administra uma loja tradicional de caftans na medina de Salé. O casal sempre conviveu com o segredo de Halim, sua homossexualidade que ele aprendeu a manter em segredo. Mas o aparente equilíbrio dessa relação é desestabilizado com a doença de Mina e a chegada de um jovem aprendiz, pelo qual Halim se apaixona nesse íntimo drama romântico que explora as complexidades do afeto.

Decision to Leave (Coréia do Sul)

Decision to Leave, do renomado diretor Park Chan-wook (Oldboy, 2003, e A Criada, 2016). Foto Divulgação

Em Decision to Leave, o renomado diretor Park Chan-wook, conhecido por filmes como Oldboy (2003) e A Criada (2016), retorna com uma misteriosa investigação criminal recheada de reviravoltas. O filme acompanha Hae-Joon, um detetive meticuloso, que investiga um possível assasinato de um homem no topo de uma montanha e suspeita de Seo-rae, a viúva dele, ao mesmo tempo que se envolve com ela. Nessa trama de desconfiança e atração, Chan-wook constrói um filme com fotografia e ritmo próprios da contemporaneidade ultra conectada, que lhe rendeu o prêmio de Melhor Direção em Cannes.

Além desses nove filmes, “Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades”, do conhecido diretor Alejandro González Iñárritu, representante do México, também esteve presente na lista de pré-selecionados, mas foi classificado para concorrer apenas na categoria de Melhor Fotografia.

Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2023