Gravado no final de 2023, em Anchieta, Zona Norte do Rio de Janeiro, o documentário Masculinidades Periféricas – Reconstrução foi o grande vencedor na categoria Melhor Documentário do Brazil New Visions Internacional Film Festival 2024 (BNVIFF) – festival que reconhece e apresenta produções nacionais para diversos países. Dirigido pelo jornalista Renan Schuindt, o curta-metragem apresenta histórias de homens cis e trans moradores de regiões periféricas do estado participantes da segunda edição do Papo de Baile do Maisum – projeto idealizado pelo DJ Jorge Maisum, que utiliza rodas de conversa para abordar situações cotidianas, ligadas ao comportamento, à saúde física e mental, à violência e afeto. Lançado em dezembro do ano passado, o filme enfrentou uma pré-seleção com mais de 450 inscritos antes de chegar à final do festival, onde concorreu com outros sete documentários.

“Estamos muito honrados e felizes com esse reconhecimento. Masculinidades Periféricas – Reconstrução traz um olhar para aquilo que os homens de favela sentem diariamente. Abordamos um tema muito sensível e que poucos querem falar. É sobre sentimentos, percepções e recomeços. No entanto, é importante ressaltar que existe outro documentário que antecede a esse – o Masculinidades Periféricas – Desconstrução – o qual a narrativa traz o exercício do ‘olhar interno’, etapa em que os entrevistados puderam expressar seus pensamentos, descontruir mitos e recriar valores”, afirma o diretor Renan Schuindt.

Os curtas estão disponíveis gratuitamente no canal do Papo de Baile, no YouTube. Além de apresentar sua visão sobre o que foi debatido nos encontros, os entrevistados – vindos de regiões diversas como Pavuna, Santa Cruz e Lapa, entre outras, apresentam fotografias, poesias, composições musicais e clipes criados por eles durante os encontros. Além disso, os filmes também evidenciam os resultados de uma pesquisa inédita, realizada pelos participantes do projeto Papo de Baile do Maisum e que ouviu outros homens de periferia para saber o que eles entendem sobre temas importantes, como o machismo. Entre os entrevistados, 97% afirmam conhecer o significado deste termo. Desses, 75% se consideram machistas.

“Esse é um trabalho necessário, que requer sensibilidade e desprendimentos de todos os lados. Como diretor, meu maior desafio era mostrar a evolução dos pensamentos e dos ideais, por isso, a ideia de dividir o material em dois momentos – Desconstrução e Reconstrução. Entrevistar o público masculino é sempre muito difícil. Os homens falam pouco, temem dar alguma opinião, e quando você diz ‘gravando’ sempre tem alguém que trava. Minha vantagem foi ser um dos participantes e, ao longo dos encontros, dividir com eles minha história e meus sentimentos. A confiança foi mútua e isso me permitiu um resultado incrível para ambos os filmes. Agora, o objetivo é alcançar outros festivais e promover exibições em escolas, ONG’s e empresas privadas. Existe uma necessidade de transformação sociocultural e o cinema é uma importante ferramenta nessa luta”, conclui Renan Schuindt.