Em meio ao cenário de massacre israelense contra o povo palestino e sob comando de Benjamim Netanyahu, jovens palestinos continuam presos em Israel. Como é o caso do jovem Islã, preso pela primeira vez aos 17 anos. Em entrevista à NINJA, Aline Backer compartilha a angustiante história de seu primo, um brasileiro-palestino que se encontra atualmente como prisioneiro em Israel. Aline discute não apenas a situação específica de Islã, mas também destaca o sofrimento generalizado enfrentado pelos prisioneiros palestinos em cárceres israelenses.

Islã enfrentou repetidas prisões, incluindo detenção administrativa, um sistema onde Israel pode prender cidadãos palestinos sem acusações formais ou direito a advogado. Mesmo após ser libertado, Islã tentou buscar uma vida fora da Palestina, mas Israel continuou impedindo sua saída.

A situação atingiu um ponto crítico quando a Autoridade Palestina também o prendeu, alegando proteção contra futuras detenções por parte de Israel. Islã iniciou uma greve de fome de 101 dias em protesto, sendo finalmente libertado. No entanto, posteriormente, foi novamente preso por Israel, desta vez sob a acusação de tentar matar um colono judeu. Aline destaca que a sentença dada a Islã foi de 21 anos.

O relato de Aline se estende além de seu primo, mencionando outros brasileiros palestinos que estão presos em Israel, totalizando quatro casos conhecidos até o momento.

Quando questionada sobre os esforços do governo brasileiro para repatriar esses cidadãos, Aline expressa frustração pela falta de resposta e ação efetiva. Ela revela que as famílias estão em contato com advogados enviados pela embaixada, mas até agora Israel não respondeu aos pedidos de visita. A entrevista destaca a dificuldade de articulação devido à postura rígida de Israel e aponta para a recusa recente de uma segunda lista de brasileiros a serem repatriados.

Aline faz um apelo desesperado às autoridades brasileiras e à comunidade internacional para pressionarem Israel a interromper a violência, chamando a atenção para o genocídio em Gaza e a limpeza étnica na Cisjordânia. Ela levanta a questão da impunidade de Israel e faz uma pergunta indignada sobre a responsabilidade da humanidade diante das atrocidades em curso há mais de 75 anos na Palestina.

Confira a entrevista completa:

NINJA: Estamos aqui com Aline Backer, que vai contar um pouco sobre a situação do seu primo Islã, que é brasileiro-palestino, e nesse momento é prisioneiro de Israel. Aline, por favor, conta um pouco para gente dessa situação.

Aline Baker: É uma situação muito complicada, assim como de todos os prisioneiros palestinos agora que estão em cárceres israelenses. Mas a história do Islã é uma história muito triste, porque desde os 17 anos ele vem sendo preso por Israel, porque Israel mantém um sistema de prisões. É com toda a população na Palestina, é muito difícil qualquer casa não ter uma pessoa que foi presa, ou que não está preso no momento. É uma forma de punição coletiva que eles têm, uma das, né, que são muitas. São muitos crimes que acontecem naquele local. Israel tem um sistema de prisão chamado “detenção administrativa”, ou seja, Israel pode prender qualquer cidadão, seja ele homem, mulher, criança, sem nenhuma acusação. O palestino não tem direito a advogado nem visita. Israel pode ficar. Ele pode ficar renovando essa detenção administrativa de 6 em 6 meses, e isso aconteceu com o Islã. Ele ficou sendo preso diversas vezes. Eles soltavam, deixavam ele livre um pouquinho e depois voltavam a prender. E numa dessas que ele estava em liberdade, o Islã tentou sair de lá, falou: “Não aguento mais, eu quero viver, eu preciso viver”, e ele resolveu vir para o Brasil morar conosco aqui. Só que Israel também não deixou ele sair. Logo em seguida, ele foi preso novamente e foi libertado. Até ser preso novamente, agora pela Autoridade Palestina, que foi em 2015. A Autoridade Palestina alegava que a prisão dele era pra proteger ele, pra que ele não fosse preso por Israel. É uma loucura… uma coisa muito estranha. “Eu quero minha Liberdade”, ele dizia. Foi então que o próprio islã pediu para que a gente intercedesse junto ao governo brasileiro para que trouxesse ele para cá, pro Brasil. Nós fizemos aqui no Brasil uma campanha muito grande em 2015, para que o Brasil intercedesse e trouxesse o Islã pra cá. Mas sem sucesso também. Então ele resolveu fazer uma greve de fome que durou 101 dias, que ele ficou sem comer e sem beber água. E já com a saúde debilitada, quando deu 101 dias, a autoridade Palestina libertou ele. E aí o Islã ficou um tempo sumido, ficou um tempo escondido, né? Na casa de amigos. Nem nós, familiares, sabíamos onde ele estava. E aí, depois de alguns meses, o Exército de Israel encontrou ele e prendeu ele novamente, e ele segue preso até hoje. Desde 2015, essa última prisão até agora.

NINJA: Você poderia dar mais detalhes sobre essa prisão?

Aline Baker: A acusação do Exército de Israel é de que o Islã tentou matar um colono. Colonos são judeus, né? Que vivem dentro da Palestina em assentamentos. Eu acho importante explicar isso para as pessoas também. Quem são os colonos? São judeus que vivem em assentamentos que são considerados ilegais pelo Direito Internacional, pela própria ONU. Esses colonos não deveriam estar lá. Ele nega que tenha cometido o crime, ele fala que ele não tinha condições nem de saúde pra poder tentar matar um colono, porque, como eu disse, ele ficou 101 dias em greve de fome, então ele estava com a saúde debilitada, então não poderia cometer essa tentativa de crime. Mas mesmo assim a sentença que Israel deu pra ele foram 21 anos. E agora, com essa situação toda que está em toda a Palestina, esse genocídio em curso em Gaza, essa coisa horrorosa que está acontecendo na Cisjordania também, enquanto os olhos da mídia estão voltados pra Gaza, no genocídio que está acontecendo lá, a Cisjordânia também segue num processo de limpeza étnica, onde os colonos estão sendo armados pelo próprio governo israelense para que possam matar livremente os palestinos, e também estão acontecendo prisões em massa.

NINJA: É uma situação muito triste e revoltante. Você tem acesso a informações de qual prisão ele se encontra em Israel? Você tem relatos recentes do que acontece nessas prisões?

Aline Baker: Nós agora não temos noticias de como o Islã está, não temos informação do seu estado de saúde, em qual prisão ele está, o que está acontecendo com ele, se ele está vivo ou morto, porque Israel não deixa nenhum advogado entrar nas prisões pra ver, ou organização não governamental pra ver como que estão esses prisioneiros. E os relatos dos prisioneiros que saem agora das prisões são assustadores, porque eles falam o que está acontecendo lá, que os soldados espancam diariamente os prisioneiros durante varias vezes ao dia, a comida está muito fracionada. É pouca comida. Às vezes eles mandam um prato de arroz – esses são relatos dos prisioneiros que saíram agora, nessa troca de prisioneiros. Eles colocam um prato de arroz numa cela que tem 20 pessoas. Eles urinam nos prisioneiros. São coisas horríveis que estão acontecendo nessas prisões, que a gente fica sabendo devido aos relatos dos prisioneiros que estão saindo agora. Então a nossa preocupação, que já era muito grande, triplicou, ficou maior ainda.

NINJA: E, além do seu primo, você compartilhou informações com a gente de que há outros brasileiros palestinos presos. Você pode, por favor, compartilhar aqui com as pessoas que nos acompanham?

Aline Baker: Sim, eu não tenho muitas informações da família, porque, na verdade, essas famílias brasileiras que eu entrei em contato… porque lá na Palestina tem o conselho de brasileiros na Palestina. A verdade é que eles estão tão assustados… Não querem expor essas pessoas agora. Mas me falaram, esse conselho me falou, que são quatro prisioneiros, contando com meu primo Islã, e que também estão em cárceres israelenses, que também as famílias não sabem como estão, se estão vivos, se estão mortos, e qual a situação em que se encontram.

NINJA: O governo brasileiro vem fazendo um esforço para retirar os brasileiros palestinos de lá. Houve uma primeira leva, digamos assim, uma lista que foi liberada e já trouxeram para o Brasil. Agora o governo articula uma segunda lista. Há uma articulação da sua família com o governo?

Aline Baker: Aqui no Brasil, eu até tento uma comunicação, que eu já comecei na verdade. Em abril eu fui pra Brasília para refazer o pedido de extradição do meu primo pra cá e me prometeram, via SECOM, que estariam agendando uma reunião com o Ministério dos Direitos Humanos, com o Itamaraty, para que nós pudéssemos saber como que poderíamos fazer, mas não aconteceu. Depois de 7 de outubro eu cobrei isso de novo, inclusive informações sobre o meu primo, como está a situação dele dentro das prisões. Também não tive uma resposta, nenhuma resposta sobre isso. Lá na Palestina, a minha tia está conversando com o advogado que a embaixada enviou pra ela, só que o que o advogado brasileiro da embaixada diz que eles mandaram o pedido para Israel para que houvesse essa visita, para ao menos saber o estado do Islã, ver como que ele está, conversar com ele, mas que Israel nem respondeu a este pedido. É essa informação que eu tenho de lá, e daqui eu tenho nenhuma, porque é uma coisa que eu não esperava do governo que está agora. Eu tinha mais esperanças que alguma coisa fosse acontecer, que nós teríamos um diálogo, não só um diálogo, mas sim uma ação em relação a isso, já que o pedido vem se estendendo desde 2015.

Assista à entrevista completa no YouTube da Mídia NINJA: