Mariane Santana, para a Cobertura Colaborativa NINJA na COP26

Já se passaram 6 anos desde o Acordo de Paris. E só agora, será concluído o Artigo 6 do tratado, que é um dos temas mais relevantes desta COP. Quem teve acesso ao rascunho, acredita que o texto é específico sobre cortes de gases de efeito estufa, mas ele ainda é mais um esboço no que se refere a finanças, adaptação e perdas e danos. 

O acordo foi firmado em 2015, por 195 países e a UE, na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP21), em Paris, O objetivo era deter o aumento da temperatura do planeta abaixo dos 2º C, quando comparado à temperatura média pré-industrial, e a ajudar economicamente os países mais vulneráveis.

Mas depois disso, o cenário geopolítico desestabilizou com o avanço da extrema-direita. De um lado, os Estados Unidos elegeram Donald Trump que sempre foi cético em relação ao aquecimento global e não fez absolutamente nada para garantir que menos gases fossem emitidos, inclusive, tirou o país do Acordo de Paris. No Brasil, Bolsonaro despontaria tempos depois, para fortalecer o negacionismo. 

A previsão era de eliminar o uso do carvão nas economias mais ricas em 2030 e, em 2040, nas mais pobres, mas caminhamos a passos lentos.  

Fizemos uma sondagem sobre quais posturas e ações tomaram os maiores emissores do Acordo de Paris até a COP26. O Brasil ocupa a quarta posição do ranking dos maiores emissores de gases poluentes desde 1850, por causa da liberação de CO2 na atmosfera decorrente de desmatamento e manuseio do solo. Em primeiro está os Estados Unidos e sucessivamente, China e Rússia.

EUA

Será que se o Donald Trump não tivesse sido presidente, estaríamos melhor em atrasar a crise climática? É impossível não pensar que durante quatro anos, a maior potência econômica mundial não fez absolutamente nada contra a degradação ambiental. Na verdade, ela piorou com o circo da extrema-direita. Inclusive aqui no Brasil, o país que deveria ser o guardião da Amazônia terminou com um presidente ainda pior que o Trump.

O ex-presidente negligenciou o Acordo de Paris tirando o país do acordo dizendo que custaria muito caro para a nação. Nos últimos anos o atual presidente Joe Biden fez uma campanha totalmente progressista, prometendo que seus quatro anos seriam pautados pelas mudanças climáticas.

Dito e feito, uma de suas principais ações no início do mandato fazer com que o país regressasse ao acordo, prometendo zerar as emissões de gases que agravam o efeito estufa até 2050. Agora na COP26, não só o Biden compareceu como o ex-presidente Obama também foi e discursou cobrando ações de uma das maiores poluidoras do mundo, China e Rússia, cujos presidentes, Xi Jinping e Vladimir Putin, não estão presentes no evento em Glasgow.

China

Um dos vilões da poluição na China é o carvão. “Reduzir as emissões da China é algo possível”, segundo diversos especialistas, mas exige uma mudança radical, tarefa à qual, o governo chinês pode não querer se engajar. 

O carvão tem sido a principal fonte de energia do país por décadas e o seu uso está aumentando. Desde 2006 a China se tornou o país que mais emite dióxido de carbono e é responsável por um quarto das emissões de gases estufa. Para mudar esse cenário, precisam radicalmente abolir o uso do carvão, eles prometeram que a partir de 2026 iriam reduzir.

Mas estudiosos acreditam que será tarde demais, os especialistas criticaram e cientistas chineses afirmam que até 2050 precisam zerar a produção de energia à carvão. Os líderes chineses ainda argumentam que têm direito de produzir energia como bem quiserem assim como fizeram os países ocidentais para gerar economia e diminuir a pobreza, um verdadeiro erro, visto que hoje sabemos que o sistema em si é o maior responsável pela degradação do planeta.

Em contraponto, a China é um dos países que mais investem em energia verde, mais está se reflorestando em um ritmo acelerado, está investindo em energia eólica e carros elétricos. Então devemos esperar que a China seja bem-sucedida para que o mundo consiga atrasar os colapsos ambientais e consiga lidar com as mudanças climáticas.

Rússia

A Rússia é um dos países que mais emite gases de efeito estufa, após tensão política de disputa envolvendo os EUA, está aparentemente colaborando para que as emissões de gases diminuam, anunciaram esse ano que irão trabalhar juntamente ao EUA na agenda de mudanças climáticas.

“Também se comprometem a implementar de modo “robusto” o Acordo de Paris e suas metas para a temperatura global, inclusive por meio de passos para reduzir emissões de gases causadores do efeito estufa. Prometem ainda trabalhar juntos com outros para promover uma cúpula sobre o clima COP 26 bem-sucedida em Glasgow, bem como cooperar em questões no Ártico relacionadas ao clima”, como aponta o Estado de Minas.

Mas Putin, não foi à COP26. Apenas disse que acredita nas conservação das florestas russas e mandou representantes. O presidente Biden criticou a ausência da Rússia e China em Glasgow, mas de acordo com o Dmitry Peskov, Moscou e Washington estão atuando de forma bilateral. “Apesar da falta de confiança mútua e uma série de disputas entre os dois países, Washington e Moscou mantem contatos diplomáticos de alto nível”.

Brasil

O Brasil não ficou atrás em promessas não cumpridas e/ou promessas que não resolvem a crise climática. Desde 2016, ano em que foi assinado o Acordo de Paris, o Brasil passa por uma crise política e econômica que desestabilizou de muitas formas os brasileiros, com um impeachment anti-democrático, escândalos de corrupção e uma eleição que elevou a extrema-direita. E assim, ela ameaça muitos setores desse país, principalmente o ambiental.

Situação agravada pelo ex-ministro do meio ambiente Ricardo Salles, cuja gestão ficou conhecida pelo recorde em desmatamento, garimpos e investigações de madeira contrabandeada – sim, no meio de uma crise climática e risco de colapso ambiental.

Então é de se imaginar que não chegamos perto de diminuir a emissão de gases, pior ainda, esse ano grupo de cientistas do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgaram estudo que confirma que a floresta amazônica está emitindo mais gases carbônicos do que absorvendo. Isso se deve ao desmatamento e queimadas na floresta.

Outro ponto abordado pela pesquisa é que estamos emitindo gás indiretamente por conta da falta de chuva na fotossíntese. “É sabido que acontece uma emissão direta com a queimada. A emissão indireta acontece porque, segundo o que observamos, as regiões desmatadas apresentam maior perda de chuva, principalmente na estação seca (agosto a outubro)”, explica a pesquisadora disse ao G1, Luciana Vanni Gatti, uma das autoras do estudo.

Assim como o presidente da China e Rússia não compareceram na COP26, o presidente Jair Bolsonaro, com a desculpa de que seria “apedrejado”, confirmando que reconhecem a imagem negativa do desgoverno.

O ministro do meio ambiente Joaquim Leite compareceu para representar o país e fez promessas radicais, só que pouco claras. Para o Observatório do Clima e especialistas que cobraram saber qual seria o número da redução de fato e sim uma porcentagem: “Apresentamos hoje uma nova meta climática, mais ambiciosa, passando de 43% para 50% até 2030; e de neutralidade de carbono até 2050, que será formalizada durante a COP26”, afirmou Leite.

Ambientalistas afirmam que o país voltou ao definido em 2015 e que uma meta sem planejamento abre uma brecha de devastação ambiental nos próximos anos. A maior parte das emissões do Brasil, saem do desmatamento, principal fonte das emissões no país. 

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