Filme de Jorane Castro teve sua pré-estreia mundial na Mostra Olhos Livres

Foto: Reprodução/Mostra de Tiradentes

Por Isabelle Medeiros

Durante algum tempo, pensei que a colonização e consequentemente o eurocentrismo como manutenção de poder no seu termo mais agressivo, por muito, destruiu e desconectou as identidades construídas por regionalidades tipicamente brasileiras. Como sudestina, havia me esquecido da brasilidade mais profunda e original e do quão somos capazes de subverter qualquer ordem em vigência.

“Terruá Pará”, documentário de Jorane Castro, registra toda a ebulição cultural do Estado do Pará e como os mais diversos isolamentos, sejam de barreiras intelectuais, sociais ou físicas, foram capazes de gerar uma cadeia cultural de criação artística singular e integrada, qualificadas para representar o que de mais rico temos.

É pensar na absorção de tantas manifestações que apenas a região Norte é capaz de assimilar e refazendo, ter algo tão único e tão Brasil, como o Carimbó, a Guitarrada, o Rap ou o Brega, entre tantas outras opções. Esse mesmo Brasil que se desconectando de suas raízes, negando o que é seu. E se quer conhece a produção musical do Norte.

Em tempos de tanta fluidez, um território que absorveu não só o que era seu, mas também de outros territórios dos países vizinhos, conseguiu conexões fundamentais para uma cultura capaz de construir linhas próprias e dispor de novas orientações por meio da tecnologia unida à ancestralidade, e a sabedoria das florestas, resultando em uma espécie de contra hegemonia local.

Foi isso o que o Pará fez. E isso é exibido neste documentário, entre paisagens, cores, ritmos e sons.

Uma obra que remonta a visibilidade nortista e genuinamente se coloca como parte da reconstrução do audiovisual brasileiro. Reafirmando em sua cultura uma região de potência global.