Na ocasião, governador do Rio inaugurava obra milionária do teleférico. “Não vamos morar no bondinho”, disse moradora

Foto: Alexandre Silva

No dia em que o governo fluminense deu início às obras de reforma do Teleférico do Alemão, no Rio de Janeiro, o governador foi duramente criticado pelas políticas de moradias na mesma região. “Não vamos morar no bondinho”, disse a ativista conhecida como Camila Moradia. Ela esbravejou na frente do próprio governador durante cerimônia e visita oficial no Complexo do Alemão na última sexta-feira (18/3).

“Me desculpa atrapalhar o evento, eu entendo que vocês precisam trabalhar”, disse Camila ao governador. “Eu também preciso, eu sou mãe de família, tenho três filhos pequenos, mas eu preciso de casa”.

Ela entregou um documento nas mãos do governador, que se manteve calado e apenas assentiu com a cabeça. Conforme noticiado no Metrópoles, ele disse que abriria uma licitação para a construção de 1.300 casas no Alemão, que começará entre abril e maio.

O grito não é de hoje

Camila é cria do Complexo do Alemão, ativista da luta pelo direito à moradia digna. É premiada internacionalmente como uma das lideranças mais importantes de Direitos Humanos na América Latina pela Front Line Defenders.

Em suas redes, ela afirma que em 2022 completará 11 anos recebendo aluguel social. “Respondam apenas quem já ficou esse tempo todo recebendo 400 reais do governo. Respondam apenas quem já mudou mais de 10 vezes por não ter como pagar o aluguel ou aqueles que já sobreviveram 10% do que eu passo ao logo desses anos”, escreveu.

Ela fez o questionamento em resposta a críticas que recebeu por enfrentar cara a cara o governador diante de seus secretários. “Foi um show? Foi politicagem? Deveria eu, ser atriz? A Globo está me perdendo? Eu ouvi tudo isso após cobrar por meus direitos. Eu luto por casa. Não quero dinheiro, não quero status, não quero e não venho candidata. Não ofendi ninguém e não passei por cima de ninguém. Mas dói… dói muito ouvir e ver que as coisas não caminham paralelamente”.

Conforme relatado por Raull Santiago, midiativista do Alemão, as famílias da antiga Favela da Skol foram removidas em 2010 com a promessa de moradia digna. “Estão até hoje lutando por seus direitos a terem um teto novamente. São anos de promessas e lutas, sem avanços! E hoje foi a oportunidade para dar um papo reto diante de uma autoridade!”, disse ao compartilhar o vídeo de Camila.

O transporte aéreo por cabo está localizado no complexo de comunidades do mesmo nome, na zona norte da capital. Com recursos da concessão dos serviços de saneamento, essa fase das intervenções está orçada em R$ 16,9 milhões.