Imagem: cdc.gov

Um estudo realizado por cientistas da Unioeste (Universidade do Oeste do Paraná) e da universidade americana Havard, publicado recentemente na revista científica Environment International, apontou níveis elevados de 11 substâncias agrotóxicas na água potável que abastece 5,5 milhões de pessoas em 127 municípios produtores de grãos no oeste do Paraná.

Segundo o levantamento “Contaminação generalizada da água potável por agrotóxicos e impacto no risco de câncer no Brasil, pelo menos 542 casos de câncer diagnosticados na região entre 2017 a 2019 estão fortemente relacionados com os agrotóxicos encontrados na água.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores se basearam no Relatório do SISÁGUA que mostra a qualidade da água potável no Paraná de 2014 a 2017 e cruzaram os níveis de concentração média de cada agrotóxico na água (ppb), a população exposta a eles em cada cidade e o risco de câncer gerado pelas substâncias encontradas, seguindo bases do INCA (Instituto Nacional de Câncer) e da IARC (Agência Internacional de Pesquisas em Câncer).

Isso quer dizer que os cientistas estimaram quantos casos de câncer cada agrotóxico poderia causar a partir da população que foi atingida por cada um. Depois, compararam esse número à quantidade real de casos da doença no período analisado na região e assim concluíram que em 542 pacientes era possível estabelecer que a exposição ao agrotóxico era “significativamente correlacionada com a soma dos casos de câncer estimados para todos os 11 agrotóxicos detectados em cada cidade”. Mais de 80% dos casos tiveram ligação com duas substâncias, mancozeb-ETU e diuron.

O Paraná tem uma população de 11 milhões de habitantes, é o segundo maior produtor de grãos do Brasil e de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), está no ranking dos cinco principais estados com maior incidência de câncer no país, principalmente para certos tipos, como câncer de cólon, pulmão, mama e oral ( INCA, 2020 ).

Hoje o Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo. O país consome mais de 500 mil toneladas dessas substâncias por ano, resultando em um consumo anual de agrotóxicos de 7l per capita. Além disso, aproximadamente 80% dos agrotóxicos autorizados para comercialização no Brasil são proibidos em pelo menos três países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) da comunidade europeia e resultaram em mais de 70.000 intoxicações.

Outro lado

Em reposta à reportagem publicada pelo jornal Folha de São Paulo, primeiro veículo que divulgou o resultado da pesquisa aqui no Brasil, a Sanepar (estatal responsável pelo saneamento básico no Paraná) disse que na época do estudo os dados do Sisagua estavam incompletos, com poucas opções para o registro, feito diretamente pelas prefeituras.

“Ficou registrada a presença de agrotóxico na água, mesmo que não tenha sido detectada, distorcendo a informação. A partir de 2019 os dados passaram a ser enviados pelo sistema de gestão da Sanepar diretamente ao Sisagua, de forma a evitar erros de digitação por parte das secretarias”, pontua a nota.

Segundo a Sanepar, no período a que se refere o artigo, foram investigados 27 tipos de agrotóxicos e os resultados ficaram abaixo dos limites permitidos. “Ou seja, não foi detectada a presença de agrotóxicos na água distribuída para a população.”

Em nota, o Ministério da Agricultura diz que criou o Programa Nacional de Habilitação de Aplicadores de Agrotóxicos para cadastrar e capacitar produtores rurais, que devem chegar a dois milhões até 2026.

Disse ainda que a responsabilidade de analisar o uso das substâncias é da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).

Procurada, a agência respondeu que “o tema específico tratado no estudo, contaminação ambiental, é de competência do Ibama”.

Até a edição desta matéria, o instituto e a Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja) não responderam aos questionamentos da Folha de São Paulo.