Uma pesquisa realizada pela Fiocruz na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, revelou os graves impactos da contaminação por mercúrio entre crianças da etnia Yanomami. Todos os 287 indígenas examinados apresentaram exposição ao mercúrio, com resultados alarmantes nos testes de quociente de inteligência (QI), que indicaram uma média de 68 para as 58 crianças participantes. A pesquisa foi realizada em nove aldeias Ninan no Alto Rio Mucajaí.

O coordenador do grupo de pesquisa Ambiente, Diversidade e Saúde da Fiocruz, Paulo Basta, alertou para as consequências permanentes desses danos neurológicos, afirmando que as crianças podem enfrentar dificuldades de acesso à educação formal e oportunidades reduzidas no mercado de trabalho ao longo da vida adulta.

O aumento do desmatamento promovido pelo garimpo contribui para a contaminação dos rios, escassez de alimentos e disseminação de doenças, enquanto medidas governamentais ainda não conseguiram conter a situação.

Os testes aplicados incluíram diferentes faixas etárias, adaptados às peculiaridades culturais. Desde estímulos visuais e lógica para crianças de 2 a 6 anos até testes mais complexos para o grupo de 7 a 12 anos, os resultados indicaram uma situação preocupante. O pesquisador ressaltou que apenas um acompanhamento longitudinal poderia estabelecer as causas exatas do problema, mas os indícios apontam para os danos neurológicos causados pela exposição crônica ao mercúrio.

(Foto: Daniel de Oliveira d’El Rei Pinto/Fiocruz).

Além da contaminação por mercúrio, a pesquisa destacou outras violações sociais e de saúde enfrentadas pelas crianças indígenas desde a gestação. A falta de acompanhamento pré-natal, baixa taxa de vacinação, estímulos educacionais insuficientes e insegurança alimentar foram apontados como fatores de risco que contribuem para o estado precário de saúde das comunidades yanomamis.

Segundo a Hutukara Associação Yanomami, o desmatamento aumentou em 309% de 2018 a 2022, resultando na contaminação dos rios, escassez de alimentos e disseminação de doenças. Além disso, os garimpeiros têm aliciado jovens, fomentado conflitos internos e disseminado violência e doenças.

Apesar das medidas do governo federal para retirar os garimpeiros da região, o número de mortes entre os indígenas continua alarmante, com suspeitas de subnotificação por parte da Secretaria de Saúde Indígena. O vice-presidente da Hutukara, Dário Vitório Kopenawa, denunciou a situação, alertando que “as nossas crianças estão nascendo doentes”.