Simone Biles, Aly Raisman, McKayla Maroney e Maggie Nichols falaram sobre os abusos sexuais que sofreram em investigação sobre omissão do FBI no caso.

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Por Mariana Walsh para a NINJA Esporte Clube

Em 2015, a ginasta Maggie Nichols denunciou o ex-médico da seleção americana de ginástica, Larry Nassar, por abuso sexual. Após isso, diversas outras atletas, incluindo as campeãs olímpicas Simone Biles, Aly Raisman e McKayla Maroney, fizeram o mesmo. Desde então, o médico foi condenado a mais de 200 anos de prisão, mas o caso segue tendo desdobramentos. Na última quarta-feira (15), as ginastas prestaram depoimentos para apurar se o FBI foi omisso durante as investigações.

Em julho, o inspetor geral do departamento de Justiça, Michael Horowitz, emitiu um relatório mostrando que as ações falhas do FBI na investigação permitiram que os abusos continuassem a acontecer por meses. Estima-se que, desde a primeira denúncia formal feita ao órgão até o ex-médico ser preso, mais de 70 meninas foram vítimas de seus abusos. Tais falhas foram consideradas chocantes pelo presidente do Comitê Judiciário do Senado, Dick Durbin, que ainda afirmou que o caso mostra um quadro de “incompetência grosseira e abandono do dever do FBI”.

Em seus depoimentos, as ginastas foram firmes ao também culparem a Federação Americana de Ginástica e o FBI pelos crimes do ex-médico e exigiram respostas. Biles disse que ela e as demais vítimas de Nassar esperam que todos os envolvidos sejam responsabilizados por seus atos. Já Raisman, pediu por “responsabilidade genuína” e uma revisão completa do sistema, além de uma investigação sobre o FBI, o Comitê Olímpico e Paralímpico dos EUA e a USA Gymnastics.

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Depoimentos marcantes

Maggie Nichols alegou que Nassar a tocava quando ela tinha 15 anos e que enviava mensagens no Facebook a elogiando.

“Meus sonhos olímpicos terminaram no verão de 2015 quando meu treinador e eu relatamos o abuso de Larry Nassar à liderança da USAG. Eu denunciei meu abuso há mais de seis anos. Até então minha família e eu recebemos poucas respostas e temos ainda mais perguntas sobre como isso foi permitido”, disse ela aos presentes no Congresso.

A campeã olímpica Aly Raisman ressaltou como as vítimas de abuso sexual são extremamente afetadas pela forma como seus casos são conduzidos pela justiça. Além disso, afirmou acreditar que “estamos nos iludindo se pensamos que as outras crianças podem ser poupadas da tolerância institucionalizada e da normalização do abuso”.

Atualmente considerada a maior estrela da ginástica e uma das atletas mais influentes do mundo, Simone Biles não conteve as lágrimas ao falar que não quer que ninguém passe pelo que ela passou e ainda passa por ser uma sobrevivente de abuso. Ela também ressaltou que o sistema falhou com todas essas meninas e mulheres ao afirmar que culpa Larry Nassar e também “todo um sistema que permitiu e perpetuou seu abuso”.

Já McKayla Maroney, dona de uma medalha olímpica de ouro e uma prata, disse estar cansada de esperar por respostas e foi firme em suas palavras ao dizer que “para um sistema que foi construído para proteger todos, é um desserviço a todas as vítimas que sofreram desnecessariamente nas mão de Larry Nassar” depois dela ter denunciado ele.

As falhas do FBI nas investigações

Em 2015, o escritório do FBI em Indianápolis recebeu as primeiras denúncias do caso. Liderado pelo agente W. Jay Abbott, nenhuma investigação formal foi aberta na época. Uma testemunha só veio a ser entrevistada meses depois e suas palavras só foram documentadas formalmente em fevereiro de 2017, muito tempo depois de Nassar ser preso sob a acusação de posse de pornografia infantil em dezembro de 2016.

Quando a entrevista foi finalmente documentada, o relatório foi preenchido com informações materiais omitidas e outras falsas. Além disso, o escritório do FBI também não compartilhou as alegações com as agências locais e estaduais, permitindo que “crianças sofressem desnecessariamente”, como disse o republicano Charles Grassley, que estava presente na audiência.

No relatório de Horowitz, também é revelado que Abbott, que se aposentou em 2018, violou a política de conflito de interesses do FBI ao discutir um possível trabalho com o Comitê Olímpico dos Estados Unidos enquanto estava envolvido na investigação sobre os abusos de Nassar. Nem Abbott, nem nenhum outro agente, foram processados ​​por suas atitudes.

Ainda foi revelado que Steve Penny, ex-presidente da federação norte-americana de ginástica, demorou cerca de cinco semanas para notificar o FBI sobre as denúncias que recebeu. E em 2018, ele foi preso acusado de ter escondido ou destruído documentos relacionados à atividade de Nassar no Karolyi Ranch, o então centro de treinamento da seleção americana.

Até quando?

Acredito que a pergunta que não quer calar é como um caso como esse, de um predador sexual que vitimizou mais de 100 meninas e mulheres, foi negligenciado por tanto tempo pelas autoridades? Isso é, no mínimo, inadmissível, mas esse é o verdadeiro cenário. Essa é a realidade de muitas mulheres, em diversos países, que buscam por justiça e resposta após sofrerem nas mãos de homens como Larry Nassar.

Como disse Raisman, o abuso se mostra normalizado na maioria dos lugares.

É admirável a coragem dessas ginastas ao utilizarem suas vozes, que possuem tanta visibilidade, para buscar uma mudança. Mudar o sistema é muito difícil, mas nos unindo parece que fica um pouco mais fácil. Como uma mulher que já passou por isso, vejo a atitude dessas mulheres como um pontinho de esperança – e também, de certa forma, como um conforto. Essa é uma luta de todos!