Foto: Frâncio de Holanda

Por Luiz Vieira

Compreender significados. Todos os artistas, em seus âmagos, buscam atentar-se aos significados e entendê-los, porque sabem que, no fundo, eles apontam a direção, elucidam os caminhos. E foi prestando atenção nos detalhes que Márcia Dailyn seguiu a sua intuição e seus próprios sonhos. Nessa de se acreditar na potência que se é, hoje a multiartista celebra as suas conquistas.

Além de ser atriz do disruptivo grupo Os Satyros, Márcia foi a primeira bailarina transsexual do Theatro Municipal de São Paulo, é colaboradora da SP Escola de Teatro e Musa do bloco Acadêmicos do Baixo Augusta que, no dia 04 de fevereiro deste ano, completa 15 anos de existência e resistência. Como em fevereiro tem Carnaval, na entrevista de hoje, a artista fala ao FODA sobre a sua relação com essa festa, o convite para o bloco, a importância da inclusão e como o amor poderá resistir em 2024.

Com vocês, a apoteótica Márcia Dailyn:

O Acadêmicos do Baixo Augusta é considerado o maior bloco carnavalesco da cidade de São Paulo. Como surgiu o convite para ser musa do bloco e como você encara essa responsabilidade?

O convite veio através dos fundadores do bloco: Leandra Leal e Alê Youssef, em 2014. Estavam todos no Bar da Onça, na véspera de um Carnaval, e eu cheguei. Já conhecia o bloco porque moro no Baixo Augusta e no início as pessoas diziam assim: “GENTEEE, QUE BLOCO MARAAAAAAAA, AQUELE BLOCO DE CARNAVAL QUE DESCE A RUA AUGUSTA, O BLOCO DA CAVEIRINHA”. Eu amei, e fui atrás do bloco. Teve um dia marcante para mim. Era um ensaio no Mirante 9 de julho, o Alê Youssef estava conversando com fundadores do bloco, de repente, subiu no palco e anunciou que eu era a Musa do Baixo Augusta. As lágrimas escorreram pelo meu rosto, a multidão foi ao delírio. Aplaudiram e gritaram bem forte: “Musa! Musa! Musa!”. Foi lindo, tocante e de uma atitude inclusiva.

Foto: Frâncio de Holanda

O tema do bloco este ano é “Resiste Amor em SP”. Como o amor pode resistir também em 2024 para que possamos construir uma sociedade mais justa, igualitária e inclusiva?

Resiste Amor em SP, ser transexual e artista no Brasil é uma luta diária. É sobre viver, estar viva. É uma forma de resistência, e de ser quem você é. Proteção para todas, todes, todos e a diversidade cultural. A cultura é rica em liberdade, onde temos o direito de ter liberdade de expressão. Uma sociedade para todos, independentemente de sexo, idade, religião, origem étnica, raça, orientação sexual ou deficiência. O meu corpo resiste, eu estou viva e fomentando a cultura. O meu corpo é arte, é liberdade, igualdade e ancestralidade. É meu amor por SP.