Durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) espionou mais de 30 mil localizações em tempo real de jornalistas, políticos de esquerda, juízes e outras pessoas. Entre as vítimas dessa ação, encontram-se o jornalista Glenn Greenwald e o ex-deputado federal David Miranda, falecido em maio deste ano, conforme relatos obtidos pelo jornal O Globo.

Sistema secreto de monitoramento revelado

A Polícia Federal (PF) descobriu a existência de um sistema secreto de monitoramento que visava jornalistas, advogados e políticos considerados adversários do governo entre os anos de 2019 e 2021. Esse sistema envolvia o uso de um software de rastreamento que permitia rastrear os celulares das vítimas. A lista de telefones espiados que foram identificados inclui cerca de 1.800 números, e a tendência é aumentar.

Alexandre Ramagem, ex-chefe da Abin e atual deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro, era o responsável pela agência durante o funcionamento do sistema israelense de espionagem.

Repercussão nas Redes Sociais

Glenn Greenwald, que é conhecido por sua atuação no jornalismo investigativo, compartilhou sua indignação no X (antigo Twitter), onde expressou sua surpresa e criticou a atuação de autoridades brasileiras, por ter sido alvo do monitoramento ilegal. Greenwald e David Miranda eram casados. O jornalista recebeu apoio de dezenas de usuários do X.

Operação da Polícia Federal

No último dia 20, a Polícia Federal deflagrou uma operação para investigar a alegada espionagem. Vinte e cinco mandados de busca e apreensão e dois de prisão preventiva foram cumpridos em diversos estados, incluindo São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Goiás e o Distrito Federal. Dois servidores suspeitos de coerção foram presos durante a operação.

Além das prisões e buscas, o Ministro Alexandre de Moraes determinou o afastamento de Paulo Maurício Fortunato Pinto, atual número 3 da Abin, e de outros quatro servidores da agência. Em uma busca na residência de Fortunato, os investigadores encontraram uma quantia considerável de US$ 171 mil em espécie. A origem desse dinheiro será investigada pela Polícia Federal.

Resposta da Abin

A Agência Brasileira de Inteligência divulgou uma nota na sexta-feira (20), afirmando que os servidores da Abin que estão sob investigação foram afastados cautelarmente e que o sistema secreto de monitoramento deixou de ser utilizado em maio de 2021. A Abin também mencionou que uma investigação interna sobre o uso do software espião já havia sido concluída em fevereiro deste ano, e uma sindicância investigativa foi iniciada em março.