Militar foi responsável pela prisão de 18 jovens em 2016 antes de manifestação em SP

Capitão do Exército, William Pina Botelho, ao lado dos jovens durante prisão em 2016.

O capitão do exército William Pina Botelho, conhecido sob o codinome Balta Nunes, em depoimento sobre o caso dos “18 do CCSP” mudou a sua versão dos fatos ocorridos em 4 de setembro de 2016, em que 18 jovens foram presos no Centro Cultural São Paulo, antes de participarem de uma manifestação contra Michel Temer (MDB).

Na ocasião, 18 jovens que combinaram de se encontrar no CCSP para irem à manifestação, foram presos em uma mega operação da Polícia Militar. O que não se sabia, era que um dos integrantes do grupo era o capitão do exército, sob o “apelido” Balta. Ele foi detido junto com os jovens e posteriormente liberado pela PM. Ele investigava o grupo de acordo com as revelações da Ponte Jornalismo e do jornal El País, à época.

Novo depoimento foi revelado em primeira mão também pela Ponte Jornalismo, que teve acesso ao vídeo em que Botelho é interrogado por advogados dos jovens detidos e pela juíza do processo. Em suas respostas, o militar entrou em contradição com os depoimentos anteriores dados à justiça e omitiu fatos já revelados, sob a justificativa de serem “sigilosos”.

Apesar das evidentes contradições e dos insistentes questionamentos dos advogados dos jovens presos, a juíza do caso vetou perguntas mais incisivas e, em alguns momentos, as suavizou, além de permitir que o capitão escondesse informações já relatadas nos depoimentos precedentes.

Uma dessas questões foi a quem Botelho respondia durante a ação no CCSP. Ele afirmou que a informação era sigilosa e poderia enfrentar um processo criminal caso revelasse seu comando. No entanto, em depoimento anterior, a uma sindicância do próprio exército, ele declarou que seu comandante naquele momento era o coronel Edgard Brito de Macedo. A juíza, no entanto, aceitou a decisão do depoente e interviu quando os advogados o questionaram.

Além disso, “Balta” mentiu ao dizer que não foi liberado pela PM após a prisão dos jovens. A foto abaixo comprova que ele foi detido junto com o grupo. Apesar da contradição com fatos notórios, a juíza não permitiu que os advogados interpelassem o capitão, de forma que ele não fez maiores comentários sobre a situação.

Em determinada parte do vídeo, ele foi questionado sobre qual legislação permitia a atuação dele no momento da associação com os jovens, que de acordo com o militar era para serviços de inteligência. A alegação é que estava amparado na GLO (Decreto de Garantia da Lei e Ordem) baixado para atuação durante as Olimpíadas.

No entanto, conforme argumentaram os advogados, a investigação dos jovens antecede o decreto, que passou a valer no dia 4 de setembro, data da prisão dos jovens. Botelho não soube responder, e a juíza não somente acatou a resposta, como advertiu os advogados para “abaixar o tom de voz”.

Caso

Os 18 jovens presos no CCSP responderam por associação criminosa e corrupção de menores, em um caso que só teve resolução positiva mais de um ano depois. Eles foram absolvidos de todas as acusações nesta segunda-feira, 22, pela juíza Cecília Pinheiro da Fonseca, da 3ª Vara Criminal do Fórum da Barra Funda.

“Havia indícios de que os réus seriam autores dos delitos em questão, mas tais indícios não foram corroborados nem fortalecidos de forma cabal, de modo que os elementos de prova são frágeis, sem autorizar decreto condenatório. Diante desse contexto, impõe-se a absolvição dos réus, por insuficiência probatória”, afirmou na sentença a magistrada.

Com informações de Ponte Jornalismo