Pela primeira vez no Brasil, o Rei Tchongolola Tchongonga-Ekuikui VI, líder do maior grupo étnico de Angola, está no Rio de Janeiro durante o Mês da Consciência Negra para participar de um evento que discute a importância da reparação histórica para a comunidade negra brasileira. O encontro histórico, com ingressos esgotados, será mediado pela jornalista Louise Freire e contará com a participação do professor doutor Babalaô Ivanir dos Santos.

A visita do Rei do Bailundo destaca a reconexão simbólica no Cais do Valongo, o local emblemático onde a maioria dos escravizados africanos desembarcou no Brasil. Este evento histórico representa uma oportunidade de reconectar os descendentes de Angola separados ao longo da dolorosa história da escravização.

De acordo com uma pesquisa da Universidade de Emory, entre 1500 e 1856, a cada cinco pessoas escravizadas no mundo, uma chegou ao Rio de Janeiro. A região do Porto, atualmente ocupada pelas avenidas Venezuela e Barão de Tefé, foi o ponto de chegada para muitos navios negreiros vindos da África. Angola e Congo se destacam como as principais nações de origem dos africanos escravizados na cidade, somando cerca de 720 mil pessoas, principalmente no século XVIII.

Quem é o Rei Tchongolola Tchongonga-Ekuikui VI:

  • Aos 39 anos, Tchongolola Tchongonga-Ekuikui VI é o 37º soberano do Reino do Bailundo, localizado na região central de Angola. Ele é formado em Direito e fala quatro línguas, incluindo o Umbundu, língua oficial do Reino do Bailundo, além das línguas francesa, portuguesa e inglesa.

Reencontro ancestral

Marcelo Moreira, sócio-diretor da DiversaCom, que promove a visita do Rei do Bailundo, em entrevista ao O Globo, ressalta: “De Angola vieram 60% dos escravizados africanos para o Brasil. Esta visita inédita e histórica representa um reencontro ancestral entre os filhos de Angola que foram separados pela escravização”.

Após o debate, está prevista uma apresentação de slam, um campeonato de poesia falada originado na cultura Hip Hop. Na manhã seguinte, o Rei participará de um seminário sobre cultura e pluralidade religiosa na UNIperiferias, localizada na favela da Maré, região que abriga o maior número de migrantes angolanos no Rio de Janeiro. À tarde, o monarca se encontrará com quilombolas no Quilombo no Camorim, o mais antigo do Rio de Janeiro, que foi ocupado por pessoas escravizadas trazidas de Angola.