Com o enredo “Capítulo 4, Versículo 3 – Da Rua e do Povo, o Hip Hop: Um Manifesto Paulistano”, o desfile da escola de samba Vai-Vai no Carnaval de São Paulo foi muito mais do que uma simples apresentação para manter sua posição entre as dez escolas de sambas mais premiadas, onde conquistou o oitavo lugar. A agremiação celebrou os 50 anos do movimento no Brasil, destacando figuras como Nelson Triunfo e Negra Li, além de contar com a presença da formação completa do grupo Racionais MC’s.

Ao representar agentes da Tropa de Choque da Polícia Militar de São Paulo, a ala  “Sobrevivendo no Inferno” foi atacada por diversos organismos e instituições ligadas ao Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo. Todas elas exigiram um tipo de “retratação pública da escola”, enquanto a Vai-Vai defendeu a representação como um recorte histórico dos anos 1990, marcados por altos índices de violência contra a população preta e periférica.

Dados apontam que, no ano passado, foram 333 assassinatos cometidos pela PM. Somadas as mortes cometidas por policiais em folga, o número sobe para 434 óbitos em 2023 e 375 em 2022. Isso significa que mais de uma pessoa foi assassinada pela PMSP por dia no estado de São Paulo.

O desfile da Vai-Vai apresentou uma série de recortes históricos, incluindo a Semana de Arte Moderna de 1922 e o lançamento do álbum dos Racionais MC’s, que abordou questões como racismo, miséria e desigualdade social. A escola ressaltou a importância do álbum na popularização do rap no Brasil e sua relevância cultural, citando sua inclusão na lista dos 100 melhores discos da música brasileira pela revista Rolling Stone Brasil.

Nas rede sociais, perfis ligados à extrema-direita, pedem o fim do repasse de recursos públicos para a Escola de Samba, no entanto, apenas parte do valor total é resultado da política de incentivo à cultura.

A Vai-Vai enfatizou que sua intenção não era provocar polêmica, mas sim prestar uma justa homenagem ao movimento Hip Hop e aos Racionais MC’s, inserindo o álbum e os acontecimentos históricos no contexto em que ocorreram. A escola também destacou a importância de discutir questões como segurança pública e marginalização dos precursores do Hip Hop no Brasil durante a década de 1990.

“Vale ressaltar que, nesse recorte histórico da década de 1990, a segurança pública no estado de São Paulo era uma questão importante e latente, com índices altíssimos de mortalidade da população preta e periférica. Além disso, é de conhecimento público que os precursores do movimento Hip Hop no Brasil eram marginalizados e tratados como vagabundos, sofrendo repressão e sendo presos, muitas vezes, apenas por dançarem e adotarem um estilo de vestimenta considerado inadequado pra época. Ou seja, o que a escola fez na avenida foi inserir o álbum e os acontecimentos históricos no contexto em que eles ocorreram, no enredo do desfile”, finaliza a Vai-Vai.