Foto José Carlos Almeida

Texto e fotos José Carlos Almeida

Centenas de manifestantes participaram de um protesto na tarde do último domingo (8), na cidade de Imperatriz no Maranhão, com o intuito de pedir justiça no caso Mariana Ferrer, além de pedirem o fim da cultura do estupro e a violência de gênero.

Mariana Ferrer, de 23 anos, foi humilhada durante audiência judicial que analisava denúncia de estupro, que a partir de uma investigação identificou como principal suspeito do crime André Aranha. Cláudio Gastão Filho, advogado do réu, insultou a jovem, a chamou de mentirosa e exibiu fotos dela, sem qualquer relação com Aranha, citando a jovem e insinuando que ela estaria em poses “ginecológicas” nas imagens. Com a exposição, o caso gerou revolta pelo país.

Em Imperatriz, a manifestação teve concentração a partir das 15 horas, na praça de Fátima no Centro de Imperatriz, às 16h os manifestantes saíram e percorreram as principais ruas do centro da cidade rumo a Beira Rio, onde por volta das 17h o ato foi encerrado. Segundo os organizadores, cerca de 500 pessoas participaram.

Kailanny Alves Sedrim, 17 anos, estudante | Vitória Rios Vieira, 17 anos, estudante | Luana Pereira Nascimento, 20 anos | Fotos: José Carlos Almeida

A estudante Luana Pereira Nascimento, de 20 anos, uma das organizadoras do ato, disse que acompanha o caso Mariana desde de 2018, e afirma que desde o momento em que saiu a sentença, as pessoas nas redes se revoltaram, “foi lançado então um perfil no Instagram em prol disso e eu fiquei aguardando alguém da cidade tomar inciativa para uma manifestação, mas eu esperei e ninguém se manifestou. Então tomei a frente e logo todo mundo abraçou a causa”, disse a jovem. A maioria das participantes eram mulheres jovens, maioria estudante.

Para Luana, o fato de o segundo maior município do Estado do Maranhão se mobilizar contra mais uma injustiça contra as mulheres, é um marco importante na historia da cidade e mostra que lá tem gente pensando e se mobilizando.

Kailanny Alves Sedrim, estudante de 17 anos, estuda o terceiro ano do ensino médio da rede pulica estadual, aponta que na escola ainda é muito presente manifestações de machismo e assédio. Ela acredita que a escola, onde deveria ser o ambiente de aprendizado, existe muita reprodução do machismo.

“Eu percebo que existe certos privilégios dados aos homens na escola. As pessoas te tratam diferente na sala de aula. Os professores também, eles respeitam muito mais homens do que mulheres e lá a gente não tem voz, além de ouvir as piadinhas machistas”, contou Kailanny.

Em casa, a jovem afirma que a situação é mais tranquila, pois sua mãe busca garantir a igualdade entre os irmão. Ela disse que busca mais liberdades, e luta por uma sociedade menos machista.

Vitória Rios Vieira, também estudante do terceiro ano do ensino médio, destaca o sofrimento da mulher negra na violência de gênero. Para ela sempre foi muito perceptível o quanto a mulher é inviabilizada e que as discrepâncias no tratamento que recebe por ser mulher é o que a motiva a continuar lutando por uma sociedade melhor. Vitória se emociona quando fala do contexto da relação de gênero dentro de casa:

“Minha família é bem tradicional eu sinto como eu e minha mãe não somos respeitadas como deveríamos, minha mãe já está no ponto em que ela aceitou. Eu faço de tudo para fazer com que a minha mãe seja respeitada e o que eu puder fazer para ajudá-la, farei. Eu vivo com essa discrepância desde criança então lidar com elas é muito complicado e o que eu puder fazer para lutar e para tentar mudar essa situação eu vou fazer”, explica a jovem.

Vitória sonha em se formar em História, Psicologia ou Sociologia, áreas que ela acredita serem voltadas ao combate às desigualdades.

A violência contra a mulher no Brasil e em Imperatriz:

O 13ª Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em setembro de 2018, registrou recorde da violência sexual. Foram 66 mil vítimas de estupro no Brasil em 2018, maior índice desde que o estudo começou a ser feito (2007).

Segundo o Anuário, 53,8% das vítimas, a maioria, foram meninas de até 13 anos. Conforme a estatística, apurada em microdados das secretarias de Segurança Pública de todos os estados e do Distrito Federal, quatro meninas até essa idade são estupradas por hora no país. Ocorrem em média 180 estupros por dia no Brasil, 4,1% acima do verificado em 2017 pelo anuário.

Em agosto desse ano, uma criança de 10 anos foi engravidada após ser estuprada pelo tio, ela é de São Mateus, no Espírito Santo, passou por um procedimento e interrompeu a gravidez. O caso chocou o país e gerou um intenso debate sobre o aborto em caso de estupro. Grupos conservadores fundamentalistas, em nome de uma falsa ideia de proteção a vida em detrimento das mulheres, tentaram impedir que a vítima desse continuidade ao procedimento.

Além da violência sexual as mulheres ainda são vitimas da violência doméstica.

Em 2019, segundo dados da BBC Brasil, 1,6 milhão de mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento no país, enquanto 22 milhões (37,1%) de brasileiras passaram por algum tipo de assédio. Dentro de casa, entre os casos de violência, 42% ocorreram no ambiente doméstico.

O Brasil já deu importantes passos para combater a violência contra a mulher. Infelizmente, mesmo com a Lei Maria da Penha e o aumento da rede de enfrentamento. Entre janeiro até março deste ano, o número de notificações de violência contra a mulher em Imperatriz cresceu mais de 50% comparado ao mesmo período do ano passado (2019).

Os dados são do Centro de Referência de Atendimento à Mulher – CRAM, serviço da Secretaria Municipal de Políticas para Mulher – SMPM, por meio de oficio recebido dos serviços da Rede de Atendimento, Delegacia Especializada da Mulher, Vara da Mulher, Ministério Público, Defensoria Pública e Central de Inquéritos e Custódia.