Lula informou que irá trabalhar para restaurar o presidencialismo no país conversando com os deputados e acabar com o orçamento secreto

Lula em entrevista ao JN. Foto: Reprodução

Por Mauro Utida

Após cinco anos, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve a oportunidade de voltar a falar abertamente para o povo brasileiro na TV Rede Globo. Em entrevista ao Jornal Nacional, na noite desta quinta-feira (25), o ex-presidente não economizou críticas ao governo de Jair Bolsonaro (PL) e alertou que o presidente “é refém do Congresso Nacional e não manda mais no país”.

Lula afirmou que Bolsonaro não tem mais controle do orçamento do governo federal, que está nas mãos do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), que distribuiu verbas públicas como bem entender através do orçamento secreto, classificado por Lula como um “escárnio” e “usurpação do poder” que “acabou com o presidencialismo do país”.

Para Lula, o Centrão não é um partido, mas uma “cooperativa de deputados que se juntam em determinadas situações que são convenientes”. Perguntado por Renata Vasconcellos em como acabar com o orçamento secreto que está impregnado no sistema do governo, Lula afirmou que só é possível através do voto consciente para renovar o Congresso Nacional. “O povo tem que tirar uma lição disso que está acontecendo e votar com esperança e otimismo e não com rancor”, declarou.

Paulo Freire, presente!

Lula disse que irá trabalhar junto com Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice-presidência, para restaurar o presidencialismo no país conversando com os deputados e que irá acabar com o orçamento secreto. Lula negou que a escolha do seu vice não foi aceita por sua militância. “Alckmin é a pessoa certa para me ajudar a concertar esse país e fazer ele voltar a crescer”.

O ex-presidente também lembrou que na época da polarização entre PT e PSDB nas eleições que disputou contra Fernando Henrique Cardoso, José Serra e, o próprio Alckmin, eles se tratavam como adversários políticos, mas não como inimigos. Lula citou o educador Paulo Freire para definir a sua escolha: “de vez em quando é preciso unir os divergentes para enfrentar os antagônicos”.


O petista se referiu a polarização criada contra o bolsonarismo, que confunde polarização com ódio. “Precisamos vencer o antagonismo e o fascismo que se instaurou nesse país”, esbravejou.

Defesa de Dilma

O apresentador Willian Bonner questionou os números ruins do governo de Dilma Rousseff (PT), mas Lula defendeu a presidenta que sofreu o golpe parlamentar em 2016, afirmando que Eduardo Cunha, na Câmara dos Deputados, e Aécio Neves, no Senado Federal, foram responsáveis para impedir a aprovação de medidas da presidenta que poderiam mudar a economia. “Era uma dupla dinâmica contra ela”, disse.

Em seguida, Lula declarou que quer voltar a ser presidente para provar que é possível o seu governo fazer mais.

“Estou com 76 anos, mas com uma energia de jovem com a obsessão de recuperar a nossa economia, gerar empregos e melhorar a condição de vida das pessoas”.

Segundo ele, a composição partidária – com 10 partidos políticos e Alckmin na vice-presidência – irá possibilitar que ele faça um governo ainda melhor que o anterior. “Quero voltar para fazer coisas que não fiz”.

Lava Jato

A Operação Lava Jato foi questionada na entrevista e Lula aproveitou o momento para denunciar a atuação do ex-juiz Sergio Moro, a quem ele acusou de ter “levado uma mentira longe demais”. Para Lula, a Lava Jato “enveredou pelo caminho político e ultrapassou limites da república com o único objetivo de me condenar “, afirmou o petista.


Lula declarou que o combate a corrupção em seu governo será através da independência da Procuradoria Geral da República, da Polícia Federal e de mecanismos criados em seu governo anterior. O petista zombou de Bolsonaro que diz que não há corrupção no governo atual, mas troca constantemente delegados da PF, tem Augusto Aras como seu aliado na PGR e coloca sigilo em investigações contra ele e seus filhos. “Eu poderia escolher um procurador engavetador, mas vamos agir como nos governos anteriores onde vamos investigar qualquer delito dentro das instituições públicas”.