Foto: Mídia NINJA

por Caelí da Silva Gobbato para Mídia NINJA

Um dos assuntos mais urgentes e essenciais para a compreensão e transformação social através do combate à desigualdade, é que a branquitude precisa entrar na pauta da discussão étnica do Brasil. A luta antirracista é uma luta de toda a sociedade e se dá também através da conscientização do seu papel histórico e do “lugar social” que você ocupa, da premissa que define previamente as oportunidades e acessos de uma pessoa lida pela sociedade como branca e de uma pessoa negra ou indígena no nosso país.

As camadas do tempo têm muita força, são gerações e gerações de seres humanos que oprimem porque assim os foi ensinado, permitido e facilitado e gerações e gerações de pessoas oprimidas que receberam o legado da resistência, da luta e da sobrevivência. Estas condições nós aprendemos sem ter que sentar para aprender, nos são postas de antemão e podemos dizer que são ambas ancestrais. Por isso é trabalho árduo contínuo que compete a todos nós com a consciência de que estamos escavando camadas profundas e complexas que precisam ser acessadas e trabalhadas no campo educativo, filosófico, social, de forma cotidiana, para além dos círculos acadêmicos.

Um olhar crítico para o tema da branquitude é uma das respostas à pergunta de como uma pessoa lida socialmente como branca pode apoiar a luta antirracista. Neste sentido Grada Kilomba, no final do primeiro capítulo de seu livro Memórias da Plantação, fala sobre este processo como um “processo psicológico que exige trabalho” e propõe: “Em vez de fazer a clássica pergunta moral “Eu sou racista?” e esperar uma resposta confortável, o sujeito branco deveria se perguntar: “Como eu posso desmantelar meu próprio racismo?” Grada então pontua que o ato de se fazer esta pergunta já é um começo. E acredito que parte importante deste processo é entender que a pessoa branca não é o padrão universal que não precisa de categoria, parar de entender-se apenas como “pessoa” em contraponto com a “pessoa negra” e a “pessoa indígena” e perceber a história de seus antepassados como violenta e cruel ao invés de orgulhar-se de sobrenomes heroicos e nobres.

Este posicionamento é essencial na luta antirracista e espero que esta reflexão atue de forma a acender o senso de responsabilidade social e fortalecer o movimento anticolonial, o movimento negro e o movimento indígena que seguem lutando como nunca deixaram de o fazer.

Para nos ajudar, dois artigos do Geledés Instituto da Mulher Negra sobre o tema:

O lugar dos sujeitos brancos na luta antirracista, por Denise Carreira e Branquitude – O lado oculto do discurso sobre o negro, por Cida Bento