Por Victor Meira

Com a chegada de “Barbie” nas salas de cinema de todo o mundo, muitas pessoas estão atraídas por sua estética. De hamburger, chinelo, roupas, balde de pipoca e etc. A cor rosa tomou conta do consumo devido à repercussão do filme. Mas o sucesso (e a controvérsia) do longa dirigido por Greta Gerwig vai além do uso das cores. Sets inteiro de plástico, céu e mar falsos e perucas nada realistas também estão no filme.

Recentemente, o cabelo da cantora Dua Lipa, que interpreta a Barbie sereia na produção, foi criticado pelos espectadores após viralizar na internet.

 

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Sarah Greenwood, diretora de arte do filme, disse em uma entrevista para a revista Architectural Digest que o filme é “irreal” de propósito e tudo se tratava de não fazer as coisas reais se encaixarem nesse mundo. A diretora Gerwig complementa: “Eu queria capturar o que seria tão ridiculamente divertido na Casa dos Sonhos (da Barbie)”.

Implementar o “ridículo” ou o “irreal” não é novidade no cinema. Este conceito é debatido por teóricos da arte há muito tempo. Em 1964, Susan Sontag, professora e cineasta, escreveu o ensaio “Notes on Camp”, onde discorre sobre o uso da estética exagerada. A autora afirma que “a essência do camp é seu amor pelo não natural: do artifício e do exagero”. Trata-se de quando a arte, ou um comportamento, é propositalmente teatral, cafona ou brega. É um comentário irônico que o artificial também pode ser belo.

Um dos precursores no cinema foi John Waters, que dirigiu o filme “Pink Flamingos” (1972), estrelado pela drag queen Divine. O longa foi considerado transgressor na época por misturar violência, ironia e uma protagonista LGBTQIAPN+.

Divine. Foto: Reprodução

O camp então percorreu a cultura popular em programas de TV, shows, videoclipes, performances e em demais manifestações artísticas, como a popularização da arte drag.

“Barbie” vem em um momento para levantar a discussão se a sensibilidade camp é um caminho a ser seguido para o cinema blockbuster. Seu maior rival na semana de estreia, “Oppenheimer”, é dirigido por Christopher Nolan. Conhecido por trazer obras mais sombrias e realistas, o diretor britânico ajudou a popularizar um tom sisudo para filmes de super-heróis pela sua adaptação da trilogia do “Cavaleiro das Trevas”. O mesmo herói, conhecido nos anos 90 por “Batman & Robin”, que hoje pode ser visto como exemplo de obra camp.

Ao comparar com outros lançamentos do ano, “Barbie” poderia se assemelhar a “A Pequena Sereia”. História de princesa com números musicais embaixo d’água, consegue fisgar o ideal do lúdico e do exagerado. Mas o longa da Disney foi criticado por ter animais muito realistas que não lembram nada a clássica animação.

 

 

De volta aos filmes de herói, “The Flash” foi criticado por seus efeitos visuais não estarem bons ou finalizados. O diretor Andy Muschietti deu uma entrevista ao site Gizmodo e explicou que o filme tem efeitos distorcidos propositalmente, pelo herói ser um velocista que corre rápido demais: “Tudo está distorcido em termos de luzes e texturas. Entramos neste ‘mundo aquático’ que é basicamente estar no ponto de vista de Barry. Fazia parte do design, pode parecer um pouco estranho para você, foi planejado”.

Mesmo que a declaração possa ser apenas uma desculpa para uma cena mal finalizada, parte do público pôde se divertir nessa perspectiva “distorcida” da cena em questão.

“The Flash”. Foto: Divulgação/Warner Bros

No cinema nacional, Xuxa volta às telonas em Outubro com “Uma Fada Veio Me Visitar”. A rainha dos baixinhos é um ícone da estética camp e conquistou o Brasil com seus figurinos exagerados e cenários extravagantes. O filme já no poster entrega seu visual colorido e brilhante.

Xuxa em “Uma Fada Veio Me Visitar”. Foto: Divulgação

Após bater recorde e se tornar a maior pré-venda na história da Warner Bros. no Brasil, “Barbie” já pode ser considerado um sucesso que encantou por sua estética apenas pelo material de divulgação. Resta saber que impacto a obra camp vai deixar para os próximos lançamentos e se o público vai abraçar mais a extravagância.