“Eu só quero ser tratado como ser humano”, lamenta o artesão e beneficiário do extinto programa para dependentes químicos De Braços Abertos, Narciso Rodriguez, 51 anos.

Com problemas de locomoção devido a uma deficiência na perna esquerda, ele e mais 28 homens que moram no prédio conhecido como Santa Maria, pertencente ao espólio do programa, que era voltado para pessoas em situação de rua e dependentes químicas, receberam na última quarta feira (24) a notícia que em dois dias teriam que sair de sua casa e ir para um Centro Temporário de Acolhimento (CTA). Hoje (26) a ação foi executada pela Guarda Civil Metropolitana.

“Não é justo o que estão fazendo com a gente. Muitos estão sendo prejudicados com essa ação”, afirma o artesão.

A solicitação de fechamento do prédio ocorreu mediante a demissão de toda a equipe técnica que atuava no prédio, composta por nove pessoas.

“Se eles mandam embora sem qualquer satisfação os funcionários, imagine nós que somos beneficiários?”, questiona o aposentado MR, de 48 anos.

Há quatro anos no programa, e há dois no Santa Maria, ele não se conforma com a situação. “O que levamos dois anos para conseguir, tv, som e máquina de lavar, vamos vender em dois dias e ir para um albergue?”.

A notificação do fechamento foi realizada pelo chefe de gabinete da Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social (SMADS), José Castro.

Aviso de demissão dos funcionários do programa.

“Ele nos notificou, mas não aceitamos o que eles estão fazendo com essas pessoas. Nesse momento, ele disse que ia ligar no meu superior. Em 5 minutos o RH me ligou e depois enviaram carta de demissão para toda a equipe”, conta um integrante da equipe técnica.

Além de Castro, um engenheiro, responsável pelo laudo técnico, e uma viatura da Guarda Civil Metropolitana (GCM) estiveram presentes na ação. O laudo aponta que o edifício tem problemas na parte elétrica, insalubridade e não apresenta brigada de incêndio.

Laudo que pede o fechamento do prédio.

A gestão dos prédios do programa De Braços Abertos localizados no centro é realizado pela Organização Social IABAS. Para uma integrante da equipe, o fechamento tem motivação política. “Eles estão desmontando a política de drogas implantada pela gestão anterior. Estão usando um instrumento legal para fazer política”.

“Se nós estamos no programa, é porque temos um objetivo, muitos aqui recuperaram a sua família e dignidade, subiram um degrau, e não vamos recuar agora”, afirma Narciso.