Os motivos dos ataques, na maioria dos casos, foram vingança, raiva e cultura extremista, aponta Unicamp

Estudantes prestam homenagem para a professora Elisabete Tenreiro. Foto: UBES

Uma pesquisa do Instituto de Estudos Avançados (IdEA), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), indica que cresceu no último ano a frequência de ataques praticados por estudantes e ex-estudantes em escolas. O estudo “Ataques de violência extrema em escolas no Brasil”, aponta que desde 2002, foram 23, incluindo o ocorrido nesta segunda em São Paulo. Mas o dado que mais chama a atenção é o aumento nos casos a partir do ano passado. Foram dez atentados nos últimos nove meses.

“A maioria alega ter sofrido bullying”,  explica Cléo Garcia, uma das pesquisadoras que assinam o estudo.

“Você vai em escolas, principalmente particulares, e dizem que não há bullying, mas quando você ouve os amigos descobre que há, sim, bullying. Temos uma lei antibullying de 2015. O que tem sido feito nas escolas a partir dessa lei? Estou sempre nelas e você não encontra programas, conversas sendo disseminadas sobre o tema. No grupo de estudos que participo na Unicamp há um estudo sobre isso, sobre convivência escolar, formas de criar espaços mais saudáveis nas escolas, mas infelizmente acho que não existe vontade política para que isso ocorra na nossa educação”, diz Garcia.

A pesquisa revela ainda que a presença do discurso de ódio entre estudantes, no convívio entre eles ou na internet, contribui para os atentados. Os 23 ataques realizados em 20 anos deixaram 24 estudantes, quatro professores e outros dois profissionais de educação mortos. Os motivos, na maioria dos casos, foram vingança, raiva e cultura extremista.

Para um grupo de especialistas do Instituto Sou da Paz, é necessário investir em métodos que possibilitem criar uma cultura de paz em comunidades escolares. Confira:

  • Equipes de ronda policial e vigilância podem impedir a entrada de criminosos em escolas, mas esta ação não é totalmente efetiva porque o criminoso pode ficar esperando para entrar na escola assim que a ronda passar;
  • Armar professores não é eficaz porque o porte e a posse da arma passa por questões estritamente pessoais e legais;
  • Uma alternativa apontada é investir em monitoramento de redes sociais: policiais poderiam receber alerta quando determinado IP [endereço do computador] começasse a fazer pesquisas relacionadas a alguns temas e, a partir disso, abrir uma investigação;
  • Escolas devem fazer campanhas de prevenção contra bullying;
  • Campanhas e conversas contra a intolerância também poderiam evitar crimes de ódio;
  • Atendimento psicológico dentro das escolas é indicado por especialistas como uma estratégia eficiente de prevenção;
  • Dar protagonismo aos estudantes para que eles participem da organização escolar é uma forma de ouvir as demandas e fazê-los participar do dia a dia da escola;
  • Pais e familiares devem ter atenção ao comportamento de adolescentes, sobretudo quando mostram isolamento, mudança de humor acentuada;
  • Há diferentes perfis psicológicos e, em alguns casos, um potencial agressor pode não dar sinais evidentes que ajudem pais a perceberem um suposto risco;

Estudantes prestam homenagem

Nesta terça-feira (28), estudantes e colegas da professora Elisabete Tenreiro estiveram em frente a E.E. Thomazia Montoro em uma vigília em solidariedade à família da professora e à comunidade, e por um pedido de escolas sem violência. O protesto foi organizado pela União Brasileira dos Estudantes Secundaistas (Ubes).

“Precisamos lembrar que o ataque que ocorreu na manhã de ontem não foi um fato isolado, e que casos como esse são o resultado de diversos fatores como a ascensão do discurso de ódio na sociedade que se reflete dentro das escolas, junto a isso, o cancelamento de projetos como o “Psicólogos na Educação” (projeto que tinha como objetivo aproximar os serviços de assistência e saúde mental e foi cancelado recentemente pelo governador Tarcísio)”, disse a entidade.

Os estudantes pedem audiência pública com o secretário de Educação e o governador do Estado para debater a situação das escolas e dos estudantes paulistas.