Relatório aponta que a agropecuária é a maior fonte de emissões do país, respondendo por 71% de todo o metano brasileiro lançado na atmosfera

A agropecuária brasileira é a maior emissora do país (Victor Moriyama/Amazônia em Chamas)

 

No Brasil, 81% das emissões de metano causadas por incêndios florestais estão associadas ao desmatamento. É o que aponta relatório recém-lançado, elaborado por pesquisadores de importantes organizações brasileiras. Eles mapearam as principais atividades e processos responsáveis pela emissão de metano no Brasil.

Nesse cenário, a agropecuária aparece como a maior emissora do país, respondendo por 71%, cerca de 14,54 milhões de toneladas, de todo o metano brasileiro lançado na atmosfera. E nesse segmento, é a pecuária a maior emissora, responsável por 64% de todas as emissões brasileiras em 2020, o que corresponde a cerca de 13,8 milhões de toneladas de gás.

O relatório traz alerta do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa), que explica que, caso nenhuma política de redução das emissões de metano for adotada – e descumprindo os acordos internacionais firmados pelo governo brasileiro -, o Brasil aumentará suas emissões em 7% até 2030, passando a emitir até 23,3 milhões de toneladas de metano.

Metano é o mais poluente

Segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), que contribuiu com o estudo, o metano é um poluente climático de vida curta com um tempo de vida atmosférico de aproximadamente 12 anos. Apesar da curta duração, seus efeitos são poderosos e seu potencial efeito de aquecimento global é equivalente a 28 vezes o do dióxido de carbono (CO2). Além disso, o metano também contribui para a formação de ozônio troposférico (O3), que, assim como ele, tem efeitos poderosos no aquecimento do planeta.

O relatório também tem contribuição de cientistas do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), Governos Locais para Sustentabilidade (ICLEI), Instituto de manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e do Observatório do Clima. O grupo está de olho nas demandas do Compromisso Global do Metano.

Segundo a pesquisadora do IPAM e uma das autoras do estudo, Bárbara Zimbres, a comunidade internacional tem cobrado a redução e um mapeamento dos principais emissores.

“Na COP26, em Glasgow, mais de cem países, incluindo o Brasil, assinaram o Compromisso Global do Metano, se comprometendo a reduzir as emissões de metano em 30% até 2030 em relação aos níveis de 2020. Portanto, as fontes de emissão de metano nos diversos setores e as oportunidades existentes para redução das emissões devem ser identificadas, para subsidiar a criação de políticas nacionais de mitigação”, ressalta.

Brasil em 5º lugar

O Brasil é o quinto maior emissor de metano do mundo e emite o equivalente a 5,5% do metano do planeta. Em 2020, as emissões brasileiras foram estimadas em 21,7 milhões de toneladas, o equivalente a 26% de todas as emissões de gases de efeito estufa do país. No mundo todo, alcançou o patamar de 364 milhões de toneladas, o que pode provocar o mesmo aquecimento que cerca de 10 bilhões de toneladas de CO2.

Segundo o IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima da ONU, um terço do aumento de temperatura verificado hoje no planeta se deve ao gás metano.

Caminhos para a redução

O SEEG aponta alternativas viáveis. Se o Brasil adotasse o uso das melhores práticas e tecnologias disponíveis, poderia reduzir suas emissões em até 36,4% até 2030. Isso acarretaria em uma redução acumulada de até 180 milhões de toneladas no período entre 2020 e 2030. A redução representaria uma grande contribuição para o Compromisso Global de Metano, ultrapassando em 6% as metas estipuladas pelo acordo.

Para que essas novas metas sejam atingidas, os autores do estudo defendem que, entre outras metas, é necessário zerar o desmatamento ilegal e as queimadas para abertura de novas áreas, ampliar a recuperação do metano do tratamento de resíduos animais e investir na produtividade dos rebanhos brasileiros, assim como na aplicação de técnicas de aprimoramento genético e de terminação intensiva do rebanho, que reduz a área e o tempo necessário para a criação do gado de corte.

(Com Ipam)