Especialistas avaliam que a iniciativa representa mais uma dura derrota diplomática do governo de Jair Bolsonaro

Parlamento quer elevar barreira a produtos cultivados em locais desmatados, como a soja (Marcelo Camargo/Agência Brasil).

Nesta terça-feira (13) o governo brasileiro sofreu mais uma derrota diplomática. O Parlamento Europeu deu outro passo rumo à aplicação de sanções comerciais ao Brasil, aprovando uma resolução que visa barrar a “importação do desmatamento”, como estão chamando.

Segundo a proposta, empresas europeias terão que garantir que carne e soja, por exemplo, tenham sido comprados de fornecedores que cumpram as exigências ambientais. Segundo o jornalista Jamil Chade, na prática, os deputados querem elevar as barreiras a produtos agrícolas que tenham sido cultivados em locais recentemente desmatados.

“A ideia é que a Europa só importe ou pelo menos, aumente a taxa de importação para produtos que tenham sido cultivados em áreas recentemente desmatadas. Se o fazendeiro comprou nova terra, desmatou, produziu e exportou para a Europa, se isso ficar provado, a soja ou o produto que ele tiver exportado, não vai sofrer a mesma taxação, vai ser uma taxa mais elevada, que vai tirá-lo do mercado”.

Chade conta que muita gente do setor produtivo tem reclamado que a iniciativa seria contra as leis do comércio, dizendo que essa é uma medida protecionista, mas segundo ele, os europeus estão pensando não apenas com uma mentalidade ecologista, mas também em salvar nossos próprios agricultores.

“A Europa é extremamente protecionista, no que se refere à agricultura. O problema é que se o Brasil fizesse a lição de casa, não teria nenhum problema com essa lei. Se não houvesse o desmatamento, não haveria uma preocupação da diplomacia brasileira, mas eles sabem que há um problema”.

Nos meses que antecederam ao voto, o governo brasileiro mobilizou sua diplomacia para tentar evitar o estabelecimento da nova estrutura comercial, com o Itamaraty sugerindo até mesmo que se trata de uma violação das regras da OMC (Organização Mundial do Comércio).

“A diplomacia brasileira sempre lidou com essas crises de uma forma muito profissional, porque existiam canais de diálogos, o problema é que nos últimos três anos e meio, fizemos questão de romper todos os canais diplomáticos. E quando uma lei dessas aparece, não tem com quem conversar”. Chade ressalta que não adianta agora o governo bater na porta e dizer que quer fazer acordo, que está interessado em acabar com o desmatamento no país, “porque ao longo dos três anos e meio, ofendemos e zombamos, evitamos encontros”. Sim, o Brasil está ficando isolado.

Para vigorar, é preciso que o projeto seja aprovado por cada um dos 27 países membros da União Europeia e negociações serão iniciadas para que um texto final seja alvo de um acordo. Se grupos progressistas e ambientalistas dentro do Parlamento Europeu defendiam a lei, uma ala insiste que a medida vem num momento complicado do comércio mundial de alimentos.