Foto: Alberto Cesar / Amazônia Real

Desde a invasão portuguesa, passando pelas desastrosas falas de Euclides da Cunha no século passado, até reproduções sem fundamentos das mídias atuais, a Amazônia vêm sendo descrita, por pessoas que pouco conhecem a região, como um lugar quase paradisíaco, vazio de “civilidade” mas rico em fauna e flora, onde povos indígenas são seres quase místicos, limitando sua identidade a imaginar todos com flechas nas mãos e com poucas roupas no corpo.

Em artigo intitulado “Desinformação na Amazônia retoma imaginário colonial sobre a floresta e os povos indígenas” publicado pelo site InfoAmazonia, Rwui Manchineri, coordenador executivo da organização Manxinerune Tsihi Pukte Hajene (Matpha), diz que esse discurso colonial é usado nas redes sociais por grupos organizados, que tentam descredibilizar e apagar a história dos povos indígenas. “Eles procuram todo tipo de estereótipo para usar contra a gente. Até pelo simples fato de a gente usar roupa, isso já é usado para afirmarem que somos menos indígenas. A gente sofre muito com essas questões preconceituosas. Já me disseram que não sou indígena, porque tenho barba. Eles tentam descredibilizar a gente”, contou.

Ruwi fez parte do projeto “Combate à desinformação sobre a Amazônia Legal e seus defensores”, que registrou, mapeou e analisou mentiras propagadas na Amazônia e sobre a Amazônia, principalmente aquelas disseminadas durante o período eleitoral de 2022. Alguns comentários encontrados nas redes sociais usavam termos como “tribos armadas”, “povo perigoso”, “índios armados com arco e flecha”, “índios baderneiros”. Essa é a mesma narrativa encontrada nos relatos dos invasores que nos séculos passados entraram no território amazônico e passaram a impor suas normas aos indígenas.

Infelizmente, a desinformação vai para além das telas e têm consequências no mundo real. Tal imaginário influencia políticas públicas, econômicas, reforça o racismo ambiental e dificulta o combate às mudanças climáticas. O jornalista Guilherme Guerreiro Neto conta: “A gente tem um histórico de um discurso construído. Um tipo de desinformação sobre a Amazônia que tem um lastro e que não é de agora, e isso vai para além do discurso, porque ele não tá só no que é dito, ele tá nas práticas políticas, nas práticas econômicas, nas práticas do modo como empresas multinacionais, como certos empreendimentos logísticos, são implantados na região de forma absolutamente arbitrária, sem consulta muitas vezes. Então, essa construção do imaginário do discurso referenda práticas racistas e de destruição da Amazônia “, enfatiza.

É o caso do agronegócio, mineradoras, madeireiros e garimpeiros que exploram a região. Utilizando-se da ideia de que a Amazônia e sua natureza são um grande vazio a ser explorado, eles justificam suas ações criminosas e se instalam na área. “ Em muitos casos, veículos que se mostram como jornalísticos são usados por agentes políticos que defendem interesses particulares em territórios, e que mantêm relações indevidas com o agronegócio, mineradoras, madeireiros e garimpeiros” afirma o artigo.

Para ajudar a mapear essa desinformação, em 2022 A Rede Cidadã InfoAmazonia iniciou o Mapa Vivo de Mídias da Amazônia, que registrou que em 2021, 282 mídias fizeram cobertura socioambiental mas somente 20% tinham editoria voltada para a Amazônia ou para o meio ambiente.

Para o jornalista Guilherme Mendes, ainda há muito o que evoluir nesse quesito: “A mídia tenta ouvir os povos tradicionais, mas traduz para a sua própria lógica, que é a lógica do capitalismo, a lógica da modernidade. Seria muito importante que a gente exercitasse uma espécie de uma escuta de outros mundos, mas sem tentar traduzir para o modo de vida hegemônico” diz.

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