Organização indígena convocou ministros do governo Lula para irem ao território no dia 27

Guarita da Base flutuante de fiscalização da Funai no rio Ituí-Itacoaí, TI Vale do Javari (Foto de Bruno Kelly para a Amazônia Real)

A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari – Univaja alerta que mesmo depois dos cruéis assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, a insegurança permanece no território. Para três dos representantes da organização indígena, que participaram de coletiva de imprensa nesta manhã (16), isso é um forte indício de que o programa atual não tem funcionado.

Por isso, em uma ação estratégica, a Univaja convocou ministros vinculados à pauta socioambiental para ir ao território no dia 27 de fevereiro. O objetivo é que possam compreender o cenário para idealizarem e colocarem em prática ações realmente efetivas.

Já confirmaram presença a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, o ministro da Justiça, Flávio Dino, e a presidente da Funai, Joênia Wapichana, e o secretário de Saúde Indígena (Sesai), Weibe Tapeba. O ponto de partida será a Base Ituí-Itacoaí, uma das três bases de proteção da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), na Terra Indígena.

Na leitura do procurador da Univaja, Eliesio Marubo, será um momento histórico, esperançoso de resultados eficazes. “Ministros na base da Funai. É uma base chave, emblemática, principal fronteira do Javari, que fecha as principais entradas do território. Ela cuida de grande parte dos indígenas isolados e de recente contato. Por isso queremos que eles vejam lá a base caindo aos pedaços, de palha, sem nenhuma estrutura. A Força Nacional estava atuando lá com a Funai, sem nenhuma condição. Sem barco, sem gasolina”, descreveu.

Eliesio destacou que os indígenas esperam ações amplificadas e por isso, a Univaja tem mantido diálogo frequente com autoridades do governo Lula. De outro lado, o governo do Amazonas não tem se empenhado em colaborar com ações de proteção ao território. O efetivo da Base da PM em Tabatinga, por exemplo, é bastante pequeno. Os policiais, segundo Beto Marubo, ainda têm que atender outros municípios. A repressão ao crime ambiental acaba ficando em segundo plano.

“Será um momento histórico. Ministros na base da Funai. É uma base chave, emblemática, principal fronteira do Javari, que fecha as principais entradas do Vale do Javari. Ela cuida de grande parte dos indígenas isolados e de recente contato. Por isso queremos que eles vejam lá a base caindo aos pedaços, de palha, sem nenhuma estrutura. A Força Nacional estava atuando lá sem nenhuma condição. Sem barco, sem gasolina”.

O representante da Univaja em Brasília, Beto Marubo também reforçou que a atuação permanente no território visa acabar com os crimes promovidos por invasores no território indígena e principalmente, proteger as vidas indígenas. Ele próprio, assim como Eliesio e o coordenador da Univaja, Paulo Marubo, estão atuando de longe porque não podem voltar ao território frente às ameaças que têm sofrido. Outro episódio recente, de ameaças à mão armada contra indígenas Kanamari, reforçam que a situação ainda é crítica e demanda ação eficaz.

Para Beto o sistema de operações pontuais não é eficiente para combater a criminalidade no território. Para ele, é preciso que haja ação coordenada entre as forças de segurança – estadual e federal –, irradiada permanentemente pelo território.

Disse ainda que o governo tem mantido diálogo aberto e que isso já é uma outra realidade em relação aos anos do país sob Bolsonaro. “Se antes não havia porta aberta, agora tem. Agora, queremos ver a coisa acontecer conforme nossa realidade. Por exemplo, há uma diretriz na Força Nacional, que eles só atuam na proteção da base, então você vai ver um monte de cara armado só na base de Ituí, enquanto os parentes foram ameaçados dentro do rio. Isso não adianta”.

Ele explica que é preciso criar novos protocolos para o Vale do Javari. “Fazer batidas no rio até Atalaia do Norte, à noite, de manhã. As autoridades têm que se mover, ter estratégia para combater a criminalidade. A gente quer que eles vão até à terra indígena para que vejam do jeito que está sendo feito, não funciona”. Ele destaca que as forças de segurança estão trabalhando de maneira isolada e precisão que as ações sejam compartilhadas.

Beto ressalta que o Estado precisa ser presente. “Não essas fanfarronices que a gente”, disse ao comparar com as tituladas “megaoperações” pontuais com ares de espetáculo.

“Pela minha experiência de décadas, não acredito neste tipo de operação. É ineficaz, gasta-se dinheiro e é só para inglês ver mesmo. O que nós temos proposto para esses ministros é que trabalhem com a especificidade do território e da fronteira”. Uma atuação de inteligência, com centralidade de comando, além da ostensividade, presença. “O Estado brasileiro presente”.

Questionado se as autoridades seriam levadas aos locais onde foram assassinados Bruno e Dom, Beto respondeu que “naturalmente”.