Possível vitória do ex-presidente Lula tem feito empresários bolsonaristas jogarem sujo

Denuncias envolvem empresários, fazendeiros e gestores públicos que ameaçam e perseguem funcionários. Foto: Reprodução

Por Mauro Utida

Empresários e gestores públicos assumidamente bolsonaristas têm jogado sujo para eleger o candidato Jair Bolsonaro (PL). Com uma possível vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno, uma série de denúncias de crimes eleitorais estão vindo à tona, incluindo perseguição política, coação e ameaça de demissão caso o atual presidente não seja reeleito.

Uma destas ameaças foi denunciada, nesta terça-feira (4), pelo senador Randolfe Rodrigues (REDE) no Ministério Público Eleitoral contra o empresário Gilson Trennepohl, vice-prefeito de Não-Me-Toque (RS), e dono de uma empresa de máquinas agrícolas.

Em comunicado emitido aos funcionários, o empresário faz ameaça de demissão em massa caso Lula seja eleito. “Caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vença no segundo turno, a empresa deverá reduzir sua base orçamentária em 30%”, declara a carta do empresário que doou R$ 350 mil para a campanha eleitoral de Bolsonaro. O valor só perde em doações para Nélson Piquet.

A representação de Randolfe Rodrigues contra o empresário bolsonarista do Rio Grande do Sul não é um caso isolado. Nesta semana, a Mídia NINJA acumula diversas denúncias de pessoas de diversas regiões do país que sofreram algum tipo de ameaça caso vote no candidato petista.

Algumas denúncias envolvem gestores públicos que estão perseguindo o funcionalismo que é contra Bolsonaro, o que caracteriza coação eleitoral, conforme artigo 300, com detenção de até seis meses e pagamento de 60 a 100 dias-multa.

O prefeito do município de Caiana, Maurício Pinheiro Ferreira, publicou em seu perfil no Instagram, nesta terça-feira, vídeo em que divulga notícias falsas sobre livros supostamente distribuídos por governos federais anteriores e coage servidores públicos do município a votarem em Bolsonaro, seu candidato à Presidência da República.

No vídeo, o prefeito da cidade da Zona da Mata mineira ameaça o funcionalismo público no caso de um resultado eleitoral favorável a Lula e diz que não se responsabilizará pelo pagamento dos salários.

 

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Um funcionário da Prefeitura de Potirendaba, interior de São Paulo, gravou um vídeo denunciando a prefeita Gislaine Franzotti (PTB) de perseguição política, coação e demissão de seus cargos por não terem votado no Bolsonaro ou terem se manifestado ao contrário. Em entrevista ao podcast Diário Talks, em agosto, a prefeita de Potirendaba declarou que não se vacinou contra covid-19 e tem medo de comunismo. Ela também defendeu uma eleição apenas com candidatos de direita.

Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Potirendaba declarou que nenhum servidor público municipal efetivo foi exonerado durante a gestão da prefeita. “Vale ressaltar que apesar de a Prefeita ter um posicionamento político, ela não concorda, não compactua e repudia qualquer tipo de perseguição ou coação contra qualquer pessoa”, informou.

Humilhação

Em Tijucas do Sul, na região sul do Paraná, o empresário Leonides Bogo Júnior, conhecido como Oni Jr. – que foi prefeito da cidade de 2005 a 2008 – publicou um vídeo ameaçando funcionários da sua rede de postos de gasolina, dizendo que irá demitir mais de 50 colaboradores caso “a esquerda ganhe”.

O ex-prefeito, que está inelegível por 8 anos por diversos crimes, incluindo um esquema de roubo e receptação de cargas de combustíveis, também divulga outros vídeos chamando o ex-presidente Lula de “ladrão”. Neste ano, Oni Jr. foi autuado pelo Ministério Público do Paraná por financiar outdoors irregulares de campanha a Bolsonaro na cidade. O empresário se recusou a cumprir a determinação da Justiça em retirar as propagandas e a prefeitura do município teve que fazer o serviço. “Além de tudo, o mesmo publica um vídeo deprimente, revoltante e nojento. Nosso povo está cansado desse tipo de ameaças”, afirma a fonte.

A Mídia NINJA também recebeu áudios e em uma delas revela o plano de um morador de Luís Eduardo Magalhães, município do oeste da Bahia, em comprar títulos de eleitor de pessoas humildes da cidade que votam no Partido dos Trabalhadores para evitar que eles votem em Lula. A fonte prefere não se identificar por medo de retaliação.

No interior do Pará, um morador de São Miguel do Guamá denuncia humilhações por empresários da cidade que ameaçam demitir os funcionários que votarem no candidato petista. Um vídeo que circula nas redes sociais mostra um suposto “empresário” bolsonarista, conhecido como “Da Lua”, cometendo o crime de compra de voto, que pode gerar reclusão até quatro anos e pagamento de 5 a 15 dias-multa.

 

 

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Na cidade de São Miguel do Guamá também há casos de “evangélicos” cometendo crime de homofobia, subindo em trios elétricos insultando a classe LGBTQIA+, comparando-os com “vândalos” e outras palavras, dentro e fora das igrejas.

“Precisamos que isso acabe pois famílias estão perdendo sua fonte de renda devido à pressão dos empresários, que são a maioria que estão no poder do comércio da cidade e são apoiadores de Bolsonaro. Eles estão fazendo tudo isso e saindo impunes injustamente. Em nome da democracia e da liberdade de expressão, em nome da Justiça, em nome, literalmente, das famílias que estão neste exato momento sendo humilhadas, peço ajuda de vocês”, declarou outra fonte.

Em Minas Gerais também há denúncias de compra de votos. Um vídeo enviado à NINJA mostra um médico ginecologista que atende nas cidades de Teófilo Otoni e Malacacheta prometendo boi e dinheiro para os funcionários da fazenda votarem em Bolsonaro, com a alegação de que o “agro não pode parar”.

Em outra fazenda em Xinguara, no sul do Pará, o proprietário pecuarista promete até 16º salário se Bolsonaro ganhasse a eleição no primeiro turno. “Eu quero gente que pense igual a mim e vista a camisa da fazenda”, diz o fazendeiro bolsonarista João Carlos Guimarães, que tenta coagir trabalhadores no Pará.

Em outra situação, a empresa Concrevali, de Jardim Alegre, no Paraná, chega a postar o comunicado assinado pelo sócio-proprietário Paulo Sergio Maciel declarando que se o candidato do PT for eleito a empresa terá que reduzir o número de colaboradores no próximo ano em até 30%. Nos comentários, pessoas criticam a empresa e alertam sobre o crime eleitoral e marcam o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A publicação foi removida pela empresa, mas não será esquecida.

Arquivo: Reprodução/Instagram @concrevali

Alguns casos mostram que as demissões já começaram após o resultado do primeiro turno. No perfil Tubarão de Santa Catarina, o criador de conteúdo digital divulgou o vídeo de uma funcionária demitida por uma empresa de Braço do Norte, cidade do sul de Santa Catarina. “Fui demitida hoje porque eu sou Lula e escrevi no meu instagram Fora Bolsonaro”, diz a jovem que junto com ela outras oito pessoas perderam o emprego em um atacadão.

 

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Como denunciar

O Ministério Público do Trabalho possui um canal de denúncia através do site www.mpt.mp.br para relatar casos de patrões assediando empregados a votarem candidatos. Também é possível fazer a denúncia pelo e-mail Procuradoria Geral do Trabalho [email protected].

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) possui um sistema onde o cidadão pode informar à Justiça Eleitoral e o Ministério Público denúncias de infrações eleitorais e irregularidades verificadas nas campanhas eleitorais, fortalecendo os princípios da participação popular, transparência e lisura do pleito. O sistema Pardal pode ser acessado por https://pardal.tse.jus.br/pardal-web.