Por Diego Arruda

O Campeonato Cearense 2023 teve início em janeiro, com jogos da primeira rodada sendo disputados entre os últimos dias 14 e 16. O Fortaleza, hoje na Série A do Campeonato Brasileiro e classificado para a Copa Libertadores, tenta um inédito pentacampeonato seguido em sua história. Por outro lado, o único a conseguir esse feito, é o maior rival, Ceará, que tenta superar as dores do rebaixamento e evitar a conquista do seu histórico adversário. Outras oito equipes tentam derrubar essa dicotomia.

Falando um pouco mais sobre a estrutura e organização do torneio, o campeonato veio com boas novidades, como a nova roupagem, com identidade visual própria; o hino oficial da competição e muitas homenagens à cultura local.

A visibilidade de uma espécie ameaçada

Uma dessas homenagens culturais está na adoção de um mascote próprio. Com o nome de “manjadinho”, termo antes pejorativo que criticava o domínio de Ceará e Fortaleza (agora ressignificado), o carismático passarinho é uma representação da espécie ”soldadinho-do-araripe”, como é popularmente conhecida. A ave que corre risco de extinção é encontrada na Chapada do Araripe, acidente geográfico localizado entre os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí.

Foto: Divulgação/FCF

Já as roupas e adereços foram inspirados em elementos da cultura cearense, como as roupas e sandálias de couro, assim como o chapéu de palha, típico da região, e as fitas e cores do reisado caririense.

Um troféu carregado de representatividade

Outra novidade na competição, é o troféu de melhor jogador em campo, dado em todas as partidas. O craque do jogo é escolhido através de votação popular. No entanto, a uma bagagem histórica muito forte nesse troféu. A Federação Cearense de Futebol, organizadora do campeonato, conseguiu unir um símbolo cultural do estado, a Jangada (embarcação característica do litoral nordestino, utilizada por pescadores) presente no design da taça, e o movimento abolicionista do Ceará, dando o nome de Dragão do Mar ao prêmio.

O legado de Dragão do Mar

Há exatos 134 anos, a princesa regente do Brasil, Isabel de Bragança, sancionou a Lei Áurea, que pois fim a escravidão no país (pelo menos, de acordo com a constituição). Fomos a última nação do ocidente a abolir completamente essa deplorável e cruel prática social.

Entretanto, uma unidade federativa do país foi pioneira nesse processo e antecedeu em quatro anos esse marco na história brasileira. A ”Data magna do Ceará”, hoje feriado no território cearense, é celebrado no dia 25 de abril, data do decreto estadual no ano de 1884 que aboliu práticas escravagistas na então província.

A conquista tem como principal símbolo, a luta de um grupo de jangadeiros que em janeiro de 1881, se recusaram a levar para navios negreiros, escravos que seriam vendidos no Rio de Janeiro. O líder desse movimento, era Francisco José do Nascimento, que ganhou um novo nome: Dragão do Mar. O cearense de Aracati teve sua importância reconhecida até pelo imperador Dom Pedro II, quando foi condecorado e foi utilizado de exemplo pela imprensa abolicionista da época, vindo a inspirar aquela que talvez seja a lei mais importante deste país, quatro anos depois.

Foto: arquivo