Jogador do Chelsea fez anúncio em fevereiro, mas voltou atrás da decisão meses depois com a demissão de treinador bósnio

Escolhido como melhor jogador na vitória contra a Bélgica, Ziyech ficou perto de não disputar a Copa (Foto: FIFA)

Por Matheus Pedroso

O Marrocos surpreendeu na manhã de domingo (27) e derrotou a favorita Bélgica, com atuação dominante que alçou os africanos para a vice-liderança do grupo, deixando em risco a classificação do adversário, que precisará vencer a Croácia na última rodada. O principal destaque da partida foi Hakim Ziyech, meio-campista do Chelsea, que por muito pouco não esteve fora do Mundial e até mesmo da seleção, de forma definitiva.

Em fevereiro, o jogador anunciou sua aposentadoria da seleção, após o conflito com o técnico bósnio Vahid Halilhodžić ser tornado público, através de críticas do treinador que o qualificou como preguiçoso e o acusou de ter forjado uma lesão para não treinar. Tudo ficou ainda mais evidenciado quando o jogador foi deixado de fora da convocação para a Taça das Nações Africanas, no início deste ano.

A queda de braço terminou com vitória para o jogador, que viu seu ‘rival’ ser demitido em agosto, faltando três meses para o Mundial. Entre os motivos, estava a relação conflituosa com estrelas, como o próprio Ziyech e Noussair Mazraoui, do Bayern München. A campanha no torneio continental, onde era uma das favoritas e foi eliminada nas quartas-de-final para o Egito, também teve peso na decisão de mudar o comando da seleção. Oficialmente, a federação declarou que visões divergentes na preparação para a Copa do Mundo levaram à demissão do bósnio.

Faltando três meses para a Copa, Vahid Halilhodžić foi demitido por Marrocos (Foto: AFP)

Com isso, Vahid repetiu, pela terceira vez, essa situação, tendo sido demitido às vésperas da Copa do Mundo em 2010 e 2018, quando comandava a Costa do Marfim e o Japão, respectivamente. A situação só não ocorreu em 2014, quando fez grande campanha com a Argélia, sendo eliminado nas oitavas-de-final para a Alemanha, em partida equilibrada, que gerou sustos para o adversário que viria a ser campeão naquele ano.

Com a mudança, que abriu caminho para a chegada de Walid Regragui, atual campeão da Liga dos Campeões da África pelo Wydad Casablanca, um dos principais clubes do país, os astros retornaram em tempo de buscar uma campanha histórica, que ficou mais próxima após a vitória contra os belgas. Uma classificação igualaria o feito atingido pelo país em 1986, quando a seleção foi até às oitavas-de-final.

Essa é a segunda vez que Ziyech disputa o torneio com Marrocos e, diferente de quatro anos atrás, quando se frustrou ainda na primeira fase, sendo eliminado por Espanha e Portugal, o destino pode ser diferente. A classificação servirá para abrilhantar a relação do craque com o país, onde não nasceu, mas vai se qualificando como um dos maiores jogadores da história da seleção.

Nascido na Holanda, mas de ascendência marroquina, o meio-campista foi alvo de disputa das duas federações antes de escolher pela seleção africana. A sua decisão rendeu críticas no seu país de origem, sendo chamado de estúpido pelo histórico ex-atacante Marco Van Basten, que comandou o jogador nos seus primeiros passos no futebol profissional.

“Eu nasci na Holanda, mas minhas raízes estão lá no Marrocos, meu pai está enterrado lá e as pessoas gostam muito de mim estão lá. Aqui parece que sempre tentam encontrar algo negativo.”, declarou o jogador que na época atuava no Ajax, principal clube holandês, onde se destacou antes de se transferir ao Chelsea, da Inglaterra.

Antes do convite de Marrocos, Ziyech chegou a disputar partidas por seleções de base da Holanda (Foto: ANP Pro Shots)

Ao Norte da África, o Marrocos tem um processo de imigração histórico muito grande para a Europa, o que justifica os treze jogadores no elenco da seleção que nasceram no Velho Continente, com ascendência marroquina e que optaram por defender o país, seja por maior identificação ou pela falta de oportunidades nas seleções dos países onde nasceram.

Isso torna a vitória de domingo ainda mais especial para o povo marroquino, que tem sua maior colônia na Europa situada na Bélgica, com mais de 400 mil pessoas no país que nasceram ou têm ascendência no Marrocos. Comunidade enorme, que poderá voltar a celebrar hoje, contra o Canadá, em caso de classificação dos Leões do Atlas para às oitavas-de-final, para isso é necessário apenas um empate.

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube