Enquanto boa parte do Brasil está em alerta por conta das fortes ondas de calor, o Rio Grande do Sul vem sofrendo com intensas chuvas, queda de granizo e tem como previsão a formação de um ciclone extratropical.

O secretário geral da ONU, António Guterres, chegou a dizer em julho, após recordes de temperatura, que “estamos caminhando para uma situação catastrófica”. No mês seguinte, em agosto, outro recorde foi quebrado: a temperatura média global foi de 1,25°C acima da média do século 20.

Além disso, a Antártica também teve o quarto mês consecutivo com a menor extensão ou cobertura de gelo marinho já registrada.

Peru, Bolívia, Paraguai, Argentina e Brasil atingiram temperaturas recordes em setembro, e alguns desses recordes podem ficar para trás ​​à medida que o calor continuar a aumentar nesta última semana do mês.

Possíveis causas

Segundo a MetSul, o aumento das temperaturas ao longo da estação é resultado da influência do El Niño, além da atuação de uma “corrente de jato” (ventos) em baixos níveis da atmosfera, que transporta o ar quente do Norte do país em direção ao Sul e Sudeste.

Desta vez, a corrente vem do leste da região dos Andes, no Chile, enquanto, normalmente, ela costuma ser oriunda da Bolívia ou do Centro-Oeste do Brasil.

Contudo, não foi somente no Brasil que o calor atingiu com força a população. Segundo o estudo feito pela World Weather Attribution (WWA), o calor registrado no hemisfério norte em junho e julho de 2023 só ocorreu por ações da humanidade e esse reflexo de clima seria “impossível” sem as ações humanas que induzem as mudanças climáticas.

Foto: Marcelo Camargo / Ag Brasil

Em entrevista para a CNN, Ricardo de Camargo, professor de Meteorologia do IAG/USP, explica que “esse ano particular agora não dá mais espaço para aquelas visões céticas do aquecimento global”. Para ele: “É indubitável: todas as evidências estão aí saltando aos olhos de todos e não há negacionismo que sustente diante de tantas alterações”.

A fala vai ao encontro das previsões que meteorologistas e cientistas vêm fazendo nos últimos anos, mostrando que esses fenômenos climáticos mais extremos se tornarão cada vez mais frequentes.

“A ciência advertiu que chegaria a esse ponto. E não para por aqui. Será mais intenso e mais frequente”, declarou à AFP John Nairn, especialista em calor extremo da Organização Meteorológica Mundial (OMM), com sede em Genebra. “As pessoas estão muito relaxadas diante dos sinais”, lamentou.

Quanto tempo temos?

Foto: Mídia Ninja

Em relatório recente, enviado para o G20, a ONU mostrou em relatório o primeiro “balanço global” (Global stocktake) sobre o progresso nos objetivos firmados durante o Acordo de Paris de 2015, incluindo o mais ambicioso, que consistia em limitar o aquecimento global a 1,5ºC.

Contudo, o relatório não trouxe resultados animadores: de acordo com a ONU, o aumento da temperatura já é de quase 1,2ºC em comparação com a era pré-industrial, o que indicaria que vamos passar dos 1,5°C calculados inicialmente.

Essa meta de 1,5°C não havia sido estabelecida à toa, e teria sido calculada como sendo o valor considerado essencial para evitar um cataclismo, contudo tal recorde deve ser rompido entre 2023 e 2027.

Ainda assim, a ONU alerta que tal mudança não deve ser permanente e que pode ser revertida, caso os países se comprometam a frear suas emissões, especialmente no que diz respeito à utilização de combustíveis fósseis. Contudo, as medidas teriam que ser “rápidas, profundas e, na maioria dos casos, imediatas reduções de emissões em todos os setores” até 2030.