O Rio Paraopeba, cuja poluição se tornou uma trágica consequência colateral da tragédia, permanece interditado, lançando Abaeté no epicentro de uma crise ambiental de proporções alarmantes. A cidade, situada na região central de Minas Gerais, testemunha uma batalha entre as alegações da mineradora Vale e a realidade vivida por pescadores locais.

Em 2019, uma portaria do governo estadual desaconselhou o uso da água do rio para qualquer finalidade, incluindo consumo humano, animal, pesca, irrigação e banho. Apesar disso, a Vale contradiz as preocupações locais, citando resultados que indicam a qualidade atual da água como semelhante à verificada antes do colapso, especialmente em períodos secos.

R$ 5 bilhões e o rio continua tóxico

A empresa anuncia um ambicioso plano de recuperação para a Bacia do Paraopeba, estimado em R$ 5 bilhões, com supervisão de órgãos competentes e auditorias ambientais. No entanto, pescadores locais são testemunhas de que o rio continua tóxico. O estado dos peixes, mesmo vivos, emite um odor desagradável, levando à redução dos compradores locais e forçando os trabalhadores a vender sua mercadoria por preços extremamente baixos.

Contrastando com as declarações da Vale, o Instituto Guaicuy conduziu um levantamento que identificou metais pesados, como arsênio, cádmio, chumbo e mercúrio, em peixes a jusante, em locais como Felixlândia, a 223 km de Brumadinho. Apesar de o instituto ter concluído seu levantamento em 2022, a incerteza persiste entre os moradores, pescadores e compradores de peixe sobre como proceder diante da situação.

O Rio Paraopeba, que antes era não apenas a principal fonte de renda para a população local, mas também parte do cotidiano da região, agora é um dilema. A recomendação da não-utilização da água para nenhum fim é reiterada pela Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad), que realiza monitoramentos emergenciais mensais em 14 pontos da bacia do rio.

Enquanto a Vale busca reabilitar a imagem da bacia do Paraopeba, os habitantes locais continuam a enfrentar as consequências tangíveis e intangíveis da tragédia, questionando a viabilidade de um futuro sustentável às margens do rio que já foi vital para suas vidas e meios de subsistência.