Durante toda essa semana, o Amazonas esteve no topo de diversas notícias sobre a crise pandêmica do novo coronavírus no Brasil. Infelizmente, não foi por notícias de superação. O Estado tem a pior taxa de incidência por milhão de habitantes, e também já atinge a pior taxa de mortalidade por milhão. Manaus foi uma das primeiras cidades a declarar colapso na saúde e na sequência entrou em colapso funerário. As imagens com as novas valas comuns sendo abertas em cemitério superlotado comoveram todo o país.

Mas o que fez o estado nortista chegar a números tão desastrosos? Diversos fatores têm sido explicados pelas mídias e pelos amazonenses. Uma delas são as chuvas, comuns no mês de abril e que geralmente já afetam a população com problemas respiratórios.

Em Manaus, o prefeito Arthur Virgílio Neto tem mencionado “abandono” do governo federal. Até 16 de abril, dados do Ministério da Saúde mostraram que somente 1,69% dos testes para covid-19 foram destinados ao Amazonas.

Mas a principal crítica ao governo federal estava relacionada a discursos e atitudes de Bolsonaro em estímulo à quebra da quarentena. As aglomerações foram um dos principais motivos apontados por manauaras, por meio de relatos, para a evolução da crise na capital. Especialmente nos bairros mais distantes do centro da cidade, não havia respeito ao isolamento e o comércio funcionava normalmente. Em Manaus, o decreto 4.795 liberou a cassação e interdição de estabelecimentos que descumprissem as medidas de controle da pandemia.

O próprio sistema de saúde no Amazonas é apontado, inclusive por médicos e especialistas, como ativador do colapso que o setor vive hoje. Com histórico de envolvimento em corrupção, um dos últimos casos se refere à investigação de desvio dos recursos de saúde para benefício do ex-governador Omar Aziz, hoje senador da República.

O sucateamento é uma lógica que permite justificar a privatização da saúde, negligenciando o SUS como sistema que é referência mundial em atendimento universal e gratuito. “Primeiro financia mal, (e o sistema) quebra. Depois que quebra, o governo diz que não funciona, e que se não funciona é porque é público. Aí vai privatizar porque o ‘privatizado funciona’”, avalia o médico Plínio Monteiro em entrevista feita ao jornal A Crítica em agosto de 2019. “Muito provavelmente é essa a grande perspectiva, que eu chamaria de sórdida, que está sendo criada”.

Em sua coluna no jornal Brasil de Fato, a ex-senadora Vanessa Grazziotin reforça a lógica perversa da privatização. Grande parte dos médicos no Amazonas é hoje contratada por meio de cooperativas. “São unidades inteiras sendo contratadas pelo estado e isso serviu, nos últimos anos, como um canalizador do desvio de recursos públicos, o que é extremamente lamentável”, afirma.