Durante a 28ª Conferência das Partes (COP28), em Dubai, a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA) lançou o “Manifesto Pelo Bem Viver e sem Violência contra as Mulheres Indígenas”.

O chamado pretende unir mulheres do Brasil e do mundo em um movimento de cura, buscando reflorestar mentes, corações e territórios. A ANMIGA, que avança na construção coletiva a partir da sabedoria herdada de suas ancestrais, destaca a importância das mulheres indígenas como guardiãs, presentes nas redes, nas ruas e nos diversos territórios, fortalecendo a luta pelo bem viver.

O manifesto denuncia os impactos devastadores da indústria do petróleo, desmatamento, garimpo, e mineração desenfreada, que ameaçam tradições, futuras gerações e a biodiversidade essencial para a vida. Em meio às negociações climáticas em Dubai, o manifesto exige liderança global para proteger riquezas naturais e culturais, transição justa para abandonar combustíveis fósseis, inclusão direta nas mesas de negociação e respeito ao conhecimento tradicional.

As mulheres indígenas clamam por medidas concretas, destacando que o Brasil pode ser um exemplo de comprometimento com a justiça ambiental e social, e concluem: a hora de agir é agora.

Leia o manifesto:

Manifesto Pelo Bem Viver e sem Violência contra as Mulheres Indígenas

Nós, mulheres indígenas, convocamos todas as mulheres do Brasil e do mundo para reflorestar mentes, corações e os nossos territórios em um grande movimento de cura.

Este chamado é um convite da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), que tem avançado na construção coletiva a partir da sabedoria que herdamos das nossas ancestrais.

Somos as mulheres guardiãs, presentes nas redes e nas ruas, no chão dos múltiplos territórios, acolhendo e fortalecendo o engajamento nas frentes de luta pelo bem viver.

À luz das florestas exuberantes e da riqueza cultural que permeia nossa terra, erguemos nossas vozes em defesa de todos os povos, dos preciosos biomas e dos que neles vivem.

Somos guardiãs de uma herança ancestral. Nossos corpos são sagrados e nossos territórios são extensões de nossa identidade. No entanto, vemos o avanço impiedoso da indústria do petróleo e gás, que não só polui nossos ares, água e solos, mas também impõe uma sombra tóxica sobre nossas comunidades. O desmatamento, o garimpo e a mineração desenfrada são como feridas abertas, que contaminam nosso sangue, ameaçam nossas tradições, nossas futuras gerações e a sociobiodiversidade que sustenta a vida.

É crucial frear o avanço do agronegócio predatório, que devasta nossas terras para atender a interesses econômicos de curto prazo. Assim como o fundamentalismo religioso que compromete nossas tradições cosmológicas, numa tentativa de monoculturalização da fé.

A garantia de que a temperatura da Terra não ultrapasse 1,5°C é vital para preservar a estabilidade climática e proteger nossos territórios e biomas. É fundamental que isto seja refletido nas decisões das negociações climáticas que acontecem em Dubai.

Exigimos que as lideranças políticas globais assumam a responsabilidade de proteger nossas riquezas naturais e culturais. É imperativo que todas as nações, governos, parlamentos, judiciários, corporações e órgãos multilaterais se comprometam na coordenação de esforços com uma transição justa, abandonando a dependência dos combustíveis fósseis e substituindo imediatamente esta energia poluente que desencadeia danos irreparáveis no planeta.

Demandamos também que sejamos incluídas nos processos, participando diretamente das mesas de negociações, pois somos as maiores responsáveis pela preservação da biodiversidade em todo o mundo, elemento-chave para a manutenção do clima global.

Respeitar nosso conhecimento tradicional é essencial para que as sociedades globais aprendam e construam conjuntamente com os povos indígenas as ações necessárias para salvar nosso clima.

Alem disso, é fundamental que o financiamento climático chegue às comunidades e tenham mecanismos desburocratizados e de acesso direto para fortaleçar nossos modos de vida.

Clamamos às autoridades a adotarem medidas concretas para assegurar um futuro no qual as mulheres indígenas não vivam sob ameaça e nossos biomas floresçam. O Brasil pode ser um exemplo global de comprometimento à justiça ambiental e social.

Uma transição justa deve ser ambientalmente sustentável, culturalmente diversa, e socialmente justa, respeitando os direitos humanos e conhecimentos dos povos indígenas.

Nós, mulheres indígenas, nos erguemos pela proteção de nossos corpos-territórios, exigindo um mundo que abrace a sustentabilidade e respeite as gerações futuras. A hora de agir é agora.