Crise climática mostra que basta de planejamento: é preciso implementar ações

De lá para cá, eventos geopolíticos atrapalharam decisões tomadas na última conferência (Mídia Ninja)


Por Rebecca Lorenzetti, da cobertura colaborativa NINJA na COP27

É a primeira vez que uma Conferência Mundial do Clima tem como foco especial, não o planejamento, mas, a resolução. Esse já é um ponto de partida para qualquer análise de comparação entre Glasgow (COP26) e Sharma el-Sheikh (COP27). 

O secretário executivo da Convenção-Quadro da ONU sobre a Mudança do Clima (UNFCC), Simon Stiell disse no discurso de abertura da COP-27 que espera-se dos líderes, que firmaram compromissos no ano passado, que apresentem resultados e não apenas mais um planejamento, sendo assim, políticas, negócios, infraestrutura e ações, sejam elas pessoais ou públicas, devem estar alinhadas com o Acordo de Paris e com a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. 

O pacto, resultado da Convenção-Quadro, entrou em vigor em 21 de março de 1994, onde já se esperava efeitos catastróficos resultantes da interferência humana no meio ambiente. O documento foi ratificado por 198 países e a adesão é quase universal. O Acordo de Paris, adotado em 2015, funciona como uma extensão dessa convenção.

COP da Implementação

O cenário atual é decisivo e pede não apenas planos e medidas mitigatórias, mas implementações políticas urgentes para lidar com os efeitos negativos climáticos que já chegaram. Por esse motivo, a COP27 vem sendo chamada de “a COP da Implementação”. Ela é então, não apenas um encontro de líderes globais para discutir sustentabilidade, mas uma possibilidade real de trazer resoluções de alto impacto para um futuro próximo. 

Segundo o secretário da UNFCCC, 29 países já apresentaram planos climáticos nacionais mais rigorosos desde a COP26, mais cinco desde que foi publicada a síntese sobre contribuições nacionalmente determinadas, na semana passada. Stiell disse haver mais 170 nações ainda por refazer e fortalecer suas promessas nacionais este ano, e reforça a importância da organização da COP-27 em funcionar como um instrumento de pressão para que essas ações se tornem concretas o mais rápido possível. 

Enquanto na COP26 mulheres, meninas e jovens eram citados como seres importantes na luta contra as mudanças climáticas, esse ano os grupos são colocados como protagonistas fundamentais desse processo. 

As conquistas alcançadas em Glasgow, no ano passado, incluem a finalização do Livro de Regras do Acordo de Paris, com diretrizes sobre o cumprimento e o estabelecimento de compromissos financeiros mais fortes, e enquanto em Glasgow a meta era manter o aquecimento da temperatura global com um aumento de 1,7° C até o final do século, esse ano se espera ações que resultem em manter o aumento em apenas 1,5º C, ou menos. 

Entre a COP26 e a COP27 aconteceram muitos eventos geopolíticos que geraram impacto negativo sobre as decisões tomadas na última conferência.

A guerra entre a Ucrânia e a Rússia colocou em risco o abastecimento energético de alguns países da Europa, entre eles França e Alemanha, dois dos países mais comprometidos com a luta contra as mudanças climáticas. A energia proveniente do gás natural da Rússia, que abastece muitos desses países foi colocada em risco, e portanto alguns países anunciaram a reativação de usinas de carvão e combustível fóssil, meios de obtenção energética que causam grande impacto sobre o planeta e o aquecimento global.

O acordo firmado entre os EUA e a China, que juntos representam 40% das emissões de gases do mundo, para contribuir com a redução de emissões foi rompido pouco tempo após a COP26 devido a divergências políticas de seus líderes. Outro evento relevante foi a morte da rainha Elisabeth II, que deixou o Reino Unido em estado de incerteza com relação ao cumprimento dos acordos climáticos. 

Ainda que as questões diplomáticas e geopolíticas tenham sofrido balanços que geram incertezas, a natureza não pode esperar, e 2022 registrou marcos importantes como consequências das mudanças climáticas, como é o caso da onda de calor em julho na Europa que matou 53 mil pessoas a mais do que no período entre 2016 e 2019. No Paquistão, 8 milhões de pessoas foram deslocadas devido a uma enchente histórica que cobriu dois terços do país, nesse evento mais de 1,5 mil pessoas morreram. 

Os quase 200 países se comprometeram a enviar esse ano, uma carta revisando seus compromissos antes da COP27, mas apenas 24 deles foram enviados. A falta de comprometimento de países desenvolvidos, que são grandes emissores de gases, é uma preocupação coletiva que tem tomado protagonismo na atual conferência. O Fundo Verde do Clima, que deveria ter angariado US$ 100 bilhões por ano desde 2020, chega ao fim deste ano com apenas um terço dos recursos prometidos pelos países ricos, segundo dados levantados pela ONG internacional Oxfam.