Abertamente feminista, a atriz é participante do grupo francês de igualdade de gênero Collectif 50/50

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Por Maria Antônia Diniz

Diretora e roteirista de Anatomie d’une chute, um dos filmes mais comentados de 2023, Justine Triet se consagra como a 8ª mulher da história a ser indicada ao Oscar de melhor direção e a 3ª a conquistar a Palma de Ouro, prêmio de maior prestígio do Festival de Cannes. Ela é a única mulher entre os cinco candidatos ao prêmio de melhor direção. Em 2023, nenhuma mulher foi indicada.

Formada em Belas Artes pela École Nationale Supérieure de Paris, Triet inicia sua carreira na direção cinematográfica em 2007 com o curta-metragem Sur Place, documentário filmado no meio de manifestações estudantis no qual retrata a violência na repressão dos protestos contra o Contrato do Primeiro Emprego (CPE) ocorridos na Paris de março de 2006.

No ano seguinte, lança Solférino, documentário realizado durante as eleições presidenciais. Em 2009, dando seguimento ao seu impulso no cinema comprometido, dirigiu Des Ombres dans la Maison, documentário filmado em São Paulo e centrado na audiência jurídica de avaliação de guarda pela mãe alcoólatra de Gustavo, um jovem favelado de 15 anos que vive em um centro de assistência social gerenciado por uma igreja evangélica.

Sem deixar de lado o viés político e social, Justine Triet passa a inserir a ficção em seus trabalhos a partir de 2012, com o lançamento do curta-metragem premiado com o EFA de melhor filme europeu na Berlinale, Naughty girl, bad boy, filme que narra a noite de encontro entre uma jovem atriz e um pintor e explora a temática da liberdade feminina.

Com a repercussão positiva do curta anterior, a cineasta francesa entra no circuito comercial com o longa La bataille de Solférino (2013), comédia dramática sobre as eleições de 2012 baseado em seu curta de 2008 e nomeado ao César — prêmio equivalente ao Oscar do cinema francês — na categoria Melhor Primeiro Filme.

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Três anos depois, Triet volta ao Festival de Cannes com a comédia Victoria, filme que destaca a relação peculiar entre uma advogada e um traficante, recebendo cinco indicações ao César e evidenciando o talento da atriz Virginie Efira.

Em 2018, Justine Triet retoma a parceria com Efira no drama Sibyl, ao lado de Adèle Exarchopoulos (Passages). A obra apresenta Sibyl, uma psicanalista que retoma a paixão pela escrita através das vivências de uma paciente depressiva. No ano seguinte, o longa ganha destaque no Festival de Cannes, mas perde para Parasita (2019), do coreano Bong Joon-ho.

Com mais de 15 anos de carreira e projetos audiovisuais com temáticas distintas, a cineasta alcança o auge da fama internacional no meio cinematográfico em 2023 com seu último longa, o suspense dramático Anatomie d’une chute, que segue gerando debates entre o público, críticos e cinéfilos.

Protagonizado pela atriz alemã Sandra Hüller (indicada na categoria do Oscar de melhor atriz), o filme é palco narrativo de um dilema moral: uma queda. Tanto no sentido literal, quanto no figurado. Um mulher investigada por suspeita de ter assassinado seu marido tenta provar sua inocência, enquanto a única testemunha possível é seu filho cego.

Além das cinco indicações ao Oscar e da Palma de Ouro, Anatomia de uma queda rendeu à diretora de 45 anos os prêmios de melhor filme em língua não inglesa e o de melhor roteiro no Globo de Ouro 2024.

Abertamente feminista e participante do grupo francês de igualdade de gênero Collectif 50/50, Justine Triet aproveita seu lugar de privilégio branco e europeu para colocar as mulheres no centro de suas narrativas, apresentando-as em todas as suas asperezas e camadas, como boas ou más, sem julgamentos.

Aspecto muito observável em seu último trabalho de destaque, que tem como pano de fundo os preconceitos existentes na emancipação feminina. Depois de tanto reconhecimento, a curiosidade sobre até onde o cinema de Justine Triet pode nos levar só tende a aumentar. Com certeza é um nome a se acompanhar daqui em diante.

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Prestes a completar o centenário, a premiação de maior destaque midiático do cinema segue negligenciando o cinema feminino. Mulheres cineastas foram indicadas à categoria apenas 7 vezes e apenas três levaram a estatueta dourada.

Isso nos faz refletir: se o Oscar levou quase 100 anos para indicar oito mulheres brancas e conceder a apenas três delas o Oscar de melhor direção, quando poderemos sonhar em ao menos ver a indicação de uma mulher negra na categoria de melhor direção?

Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2024