Na última semana, uma série de eventos preocupantes vem chocando moradores e ativistas no sul da Bahia, com relatos de destruição ambiental e atentados contra aqueles que denunciam crimes. A situação atingiu um ponto crítico com a denúncia de empresários que estariam destruindo uma área protegida na região para a extração de gesso.

A situação piorou com a confirmação de que várias cidades, incluindo Itacaré, Marau e Camamu, estão enfrentando crimes ambientais graves, resultando na poluição de rios e diversas pessoas sofrendo de doenças de pele. A extração de gesso, aparentemente autorizada por um documento assinado pela autoridade ambiental dos municípios, está gerando preocupações adicionais.

Uma ativista local, que preferiu não se identificar, vem enfrentando retaliações diretas, incluindo um incêndio criminoso em propriedades de familiares. A extração proposta, planejada para iniciar em 2024, envolve a drenagem do lençol freático em uma área de reserva ambiental permanente, colocando em risco o abastecimento de água para mais de 200 famílias, incluindo a dela. A ativista agora está escondida por medo de retaliações.

A comunidade local está em alerta máximo, enfrentando os incêndios criminosos que ameaçam propriedades e vidas. A falta de apoio dos bombeiros na região, apesar da área ser uma Área de Proteção Ambiental (APA), agrava ainda mais a situação. Familiares da ativista estão lutando contra o fogo para salvar suas casas, enquanto a fauna local também sofre com os incêndios.

A situação levanta questões sobre a integridade ambiental da região e destaca a influência de interesses empresariais acima dos direitos dos moradores. Além disso, a possível conexão entre a denúncia pública da ativista e os ataques incendiários destaca a vulnerabilidade dos defensores ambientais diante de poderosos interesses econômicos.

Impactos ambientais

A extração massiva de água para a remoção de minerais subterrâneos pode causar uma crise acentuada do lençol freático. Essa prática compromete diretamente o equilíbrio hidrológico da região, afetando a quantidade de água disponível em rios e córregos, ameaçando ecossistemas aquáticos e a subsistência de comunidades locais.

A escavação intensiva resulta na perda irreparável de biodiversidade subterrânea e acarreta no desmatamento de extensas áreas de vegetação natural. Essas mudanças impactam diretamente a fauna e a flora, contribuindo para a perda de habitats cruciais para diversas espécies.

Além disso, os resíduos gerados durante o processo de extração contaminam as águas superficiais e subterrâneas, representando uma ameaça direta à qualidade da água. Isso não apenas prejudica a vida aquática, mas também coloca em risco as comunidades que dependem da pesca como meio de subsistência.

Além dos impactos ambientais, a extração em larga escala traz consigo consequências socioeconômicas. Comunidades locais enfrentam o deslocamento, perda de meios de subsistência e pressões crescentes sobre serviços públicos, que se soma aos danos ambientais.

Apelo à ação e investigação

Ativistas locais têm clamado por ação imediata das autoridades competentes para investigar as práticas de extração e impor medidas restritivas. É evidente que a busca pelo lucro desenfreado está comprometendo não apenas o meio ambiente, mas também a vida e os meios de subsistência das comunidades locais.

Em 2022, o Brasil registrou a média de um conflito por terra a cada quatro horas totalizando 2.018 casos no ano. Em Pernambuco, foram registradas 65 ocorrências envolvendo 31.056 pessoas. A Bahia também viu crescer os número em 2022, sendo o segundo estado do Nordeste com maior índice de registros. Os números foram apresentados pela Comissão Pastoral da Terra na publicação “Conflitos no Campo Brasil”, levantamento que reúne os dados de violências e violações de direitos ocorridas no campo.

De acordo com a pesquisa da CPT, os conflitos no campo que ocorreram no Brasil em 2022 envolveram 909.450 pessoas e 80.165.951 de hectares de terra.