A Vila da Barca em Belém do Pará foi abandonada à própria sorte. Com uma população de 7.000 pessoas vivendo em condições desumanas, que beiram o inacreditável.

Foto: João Paulo Guimarães / Mídia NINJA

Fotos e Texto por João Paulo Guimarães / Mídia NINJA

A comunidade que sobrevive ao clima de forte calor, ao incêndio que destruiu 26 moradias em 2018 e ao desemprego, agora precisa sobreviver à pandemia do Corona Vírus. Sozinhos e sem apoio do município ou governo, a única presença política foi durante a desinfecção da Praça do conjunto habitacional da Vila da Barca..Como se lida com duas perdas na família em menos de uma semana? Você saberia como lidar com a perda de sua mãe e irmão? Andenilce Souza dos Santos Avelar precisou lidar e continua lidando. Foi há menos de uma semana e, por isso, ainda dói muito.

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Ela conta como perdeu a mãe de 68 anos, Dulce Batista, e o irmão, Carlos Emerson Souza dos Santos de 47 anos. A mãe era saudável e o irmão tinha câncer, mas fazia tratamento e vinha apresentando melhora. Os dois não precisavam morrer agora, mas morreram. Primeiro ela e depois ele. Antes de morrer, Dona Dulce caiu no chão da Upa da Sacramenta e foi socorrida pela filha e por uma enfermeira. Dona Dulce era muito religiosa. Ela se deitou no colo da filha e rezou uma Ave Maria acompanhada por Andenilce. A oração acabou e ela se foi. Mais um número sem cor e sem classe social. Apenas o rótulo de Grupo de Risco.

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A Vila da Barca é uma comunidade situada quase no centro de Belém, com casas construídas sobre palafitas e estruturas de madeira como pontes. Há áreas com casas de alvenaria também. Sem saneamento básico nenhum, como a ausência de água encanada e a inexistência de esgotamento sanitário, a Vila da Barca resiste à Pandemia e à Quarentena através de recursos externos além de um trabalho de consciência e educação feito pela própria Associação, sem apoio do município ou do estado. Grande parte da população da Vila é consciente do isolamento social, assim como da utilização obrigatória de máscaras, mas a dificuldade em manter a quarentena vem através da circulação necessária nesses espaços tão pequenos e limitados como são as palafitas, assim como a delicadeza das estruturas e a proximidade das paredes das casas.

Vários locais da comunidade oferecem serviços essenciais básicos como produtos de higiene e alimentação e as medidas para prever o distanciamento vêm da associação, criadas em conjunto com esses moradores. Até agora tem dado certo. É uma regra colocar cordões de isolamento na frente dos comércios para que o comprador não se exponha ao possível contato e nem exponha o dono do serviço.

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A Vila da Barca está sobrevivendo através de ajuda externa. São grupos de pessoas solidárias que levam cestas básicas para a população da comunidade assim como produtos de higiene pessoal através de projetos como o Miséria que Habita e o Ação contra a Fome. Só que essa é uma iniciativa privada e solidária. São pessoas que se organizaram juntamente à Associação da Vila da Barca sob a gerencia de Inêz Medeiros, a atual coordenadora geral. Essas ações levam no máximo 700 cestas básicas para um total de 7.000 moradores em situação de risco extremo quanto às condições de vida.

A Unidade Básica de Saúde funciona de forma superficial no horário de 08hrs às 17hrs dentro da comunidade, mas não há atendimento para Covid-19, assim como não há trabalho de conscientização ou educação quanto ao vírus ou sobre a necessidade de isolamento social durante a Pandemia, fora de suas paredes. A Unidade de Saúde distribui senhas durante a semana para atendimentos no prazo de uma semana ou mais, mas apenas para ginecologista, PCCU, pré natal, vacinação e clínica médica.

Inêz conta que: “Assim como outras unidades de saúde da prefeitura, lá também não havia material de EPI durante o período que fui buscar doação para os voluntários que ajudariam na distribuição das cestas no dia 15 de abril.” Quanto à distribuição de senhas ela afirma ainda que “muitos chegavam às 04 da manhã para aguardar na fila e garantir a senha e o futuro atendimento.”

“Estamos mais cuidadosos após alguns casos na comunidade e infelizmente algumas perdas dolorosas. Seguimos resistindo, e tentando ter vozes que ecoam para um único propósito: manter o isolamento social.”, comenta Andenilce.

Sobrevivemos pela generosidade, bondade e compaixão de pessoas anônimas, o Estado não se faz presente aqui.

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O “Lockdown” segue em Belém do Pará sem grandes impactos estatísticos.

Para ajudar as famílias da Vila da Barca ou para mais informações, entre em contato:

Email: [email protected]

Whatsapp: +5591988094441 (Inêz Medeiros)

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