Mulheres foram protagonistas nas discussões sobre a cura do planeta (Oliver Ninja/Mídia Ninja)

 

Bruna Obadowski, para a Cobertura NINJA na COP26

O aquecimento global é a febre de uma doença que atinge os territórios há mais de 500. Esse é um fato incontestável para todos que acompanharam a 26ª Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas em Glasgow, na Escócia. O que ninguém esperava – não de tamanha proporção -, é que as lideranças indígenas, sobretudo as mulheres, teriam uma presença inquestionável durante o evento. Elas foram protagonistas dos debates sobre a importância dos povos tradicionais cuidados com o meio ambiente e na mitigação do aquecimento global.

Enquanto empresas e governos negociavam seus privilégios institucionais durante as rodas fechadas na COP26 – acordos estes prorrogados desde a sexta-feira (12) sem data e hora para acabar -, mulheres indígenas de diferentes povos de todo o mundo se reuniram em um círculo de conversas para compartilhar reflexões, críticas, dores, sonhos e ações durante a “Cura da Terra”, conferência realizada anualmente e que neste ano foi realizada em Glasgow, durante a COP. A intenção foi colocar a voz da mulher indígena no centro da narrativa em tempos de pandemia e crise climática.

“Neste momento de crise climática e civilizatória nós mulheres nos unimos para pressionar, para falar e abraçar a cura da terra, dos nossos corpos e dos nossos espíritos. Nesta manhã construímos um espaço seguro de agrupamento que nos permite falar do fundo dos nossos corações, de como vivemos e como percebemos os estragos das crises climáticas nos territórios que habitamos e que nos permitem existir”, disse Marina Flores Cruz no encontro realizado no dia 10 de novembro.

Durante as falas, elas plantaram sementes de esperança sinalizando reflorestar, não só os campos degradados pelo homem e seus negócios, mas também corações esperançosos por ações efetivas na contenção das mudanças climáticas. “Nós, as mulheres indígenas, que curamos nossos corpos, territórios e espíritos, somos soluções vivas para a crise climática” reforçavam os convites para o evento.

Entre os assuntos debatidos durante o dia de programação da conferência, estão o papel dos povos indígenas no combate à mudança climática e a preservação das florestas em seus territórios, além da forte atuação indigena na pressão pela efetivação dos acordos em Glasgow. Para o movimento, as demarcações de terras são centrais para a proteção de sua vida, de sua cultura e do meio ambiente.

A denuncia a ataques às terras indígenas no país e problemas como a pandemia, o garimpo ilegal e a violência no campo, também foram mencionados. Segundo relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), os assassinatos de indígenas no Brasil aumentaram significativamente em 2020.

Pesquisas recentes têm mostrado que os povos indígenas tiveram um papel fundamental na formação da biodiversidade encontrada na América do Sul. Muitas plantas, por exemplo, surgiram como produto de técnicas indígenas de manejo da floresta, como a castanheira, a pupunha, o cacau, o babaçu, a mandioca e a araucária.

Estudos vão além indicam que as florestas podem contribuir com até 37% para as metas de mitigação do clima do Acordo de Paris, que busca limitar o aquecimento global a abaixo de 2ºC ou, idealmente, a 1,5ºC até o fim do século, assunto que seguiu no centro das discussões da COP 26.

Se por um lado, a 26ª edição ficou marcado pela falta de acessibilidade e acordos nada ambiciosos, sobretudo por parte do governo brasileiro, por outro, as mulheres indígenas garantiram a pressão necessária para alertar o mundo a buscar soluções vivas para a crise climática.

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